Topo

Chico Alves

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Brasileiro doa empresa que planeja investir bilhões em causas sociais

João Paulo Pacífico, CEO do Grupo Gaia - Divulgação
João Paulo Pacífico, CEO do Grupo Gaia Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

22/09/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Foi destaque na imprensa mundial a decisão do americano Yvon Chouinard de doar sua empresa de moda esportiva, a Patagonia, avaliada em US$ 3 bilhões, a um fundo de financiamento de ONGs de defesa ambiental. Uma iniciativa semelhante está prestes a ser colocada em prática no Brasil. CEO do Grupo Gaia, que atua no mercado financeiro há 13 anos, João Paulo Pacífico está tocando o processo de doação de sua empresa a uma ONG para viabilizar projetos de impacto social. "O objetivo é daqui a três ou cinco anos conseguir investir R$ 1 bilhão anual nesse tipo de trabalho", disse Pacífico à coluna.

O empresário afirma que com a operação deixará de ser o proprietário. "A empresa está sendo doada para a ONG que foi criada para esse fim e não tem dono", explica ele. "Todo lucro será reinvestido na causa social". Quando a transferência for concluída, Pacífico afirma que passará de empresário a assalariado.

Uma das empresas do grupo, a Planeta, foi vendida em março e todo o dinheiro foi repassado como patrimônio ao novo empreendimento de cunho social.

O Grupo Gaia chamou atenção do mercado ao ajudar a formatar uma operação financeira que captou R$ 17,5 milhões para cooperativas do MST, em um negócio que seguiu os parâmetros tradicionais do rentismo. A diferença é que o resultado serviu para viabilizar o trabalho de uma organização que muitos na Faria Lima enxergam como inimiga do capitalismo.

"Estamos mudando o sistema financeiro por dentro, já que usamos na operação em favor do MST os mesmos instrumentos usados por grandes grupos empresariais", detalha Pacífico.

Com a passagem do Grupo Gaia para uma ONG, a ideia é apoiar projetos como a produção agrícola em áreas indígenas e de quilombos, produção de alimento pelo MST e oferecer moradia a preços populares.

Nessa área, começa a sair do papel um conjunto de 13 prédios com apartamentos a preços acessíveis no Centro de São Paulo, a um custo de R$ 250 milhões. O empreendimento vai abrigar 1.800 famílias, cerca de 7.500 pessoas. O primeiro prédio será inaugurado em breve.

Pacífico faz questão de destacar que não se trata de uma iniciativa de caridade ou fora dos padrões capitalistas. "Nós precisamos ter algum lucro, mas em margem saudável, para pagar as contas e os salários. O resto é reinvestido em impacto social", afirma. "Vamos mostrar que o capitalismo pode ser menos predatório do que é hoje".

Ele se define como uma pessoa simples, mas reconhece que tem um estilo de vida privilegiado. Isso não vai mudar com a doação de sua empresa para a ONG. "Os empresários podem ajudar a sociedade e ao mesmo tempo se manter com bom padrão de vida", acredita.

Além da atuação à frente da empresa, João Paulo Pacifico ganhou grande visibilidade por ser influencer no Linkedin, plataforma em que tem mais de 450 mil seguidores, e pela newsletter com mais de 125 mil assinantes. Lançou dois livros (Onda Azul e Seja Líder como o Mundo Precisa).

"Eu acredito que assim como as pessoas têm que ter um mínimo para sobreviver, deveria ser estabelecido um máximo", propõe o empresário. "Sinto prazer, sinto significado no que eu faço, e isso me dá uma satisfação pessoal gigantesca".

A doação do Grupo Gaia para a ONG passa por trâmites burocráticos, que deverão estar concluídos até o mês que vem.