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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

De Nardes aos terroristas das estradas, está na hora de punir os golpistas

Ministro Augusto Nardes e caminhão incendiado por manifestantes em rodovia de MT - Divulgação e reprodução de vídeo
Ministro Augusto Nardes e caminhão incendiado por manifestantes em rodovia de MT Imagem: Divulgação e reprodução de vídeo

Colunista do UOL

22/11/2022 14h03

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Desde que o resultado da eleição presidencial foi anunciado, golpistas de vários matizes se mobilizaram contra a vitória legítima de Luiz Inácio Lula da Silva. Empresários do agronegócio, dublês de caminhoneiros, um pastor incendiário, tias do zap, militares da reserva (com o apoio cada vez mais ostensivo de alguns da ativa) e outros da mesma espécie se alternaram entre bloquear estradas e gritar às portas de quartéis.

Como crianças mimadas, que não sabem perder, esperneiam para manter Jair Bolsonaro no poder, com a ajuda das Forças Armadas. Pouco importa para eles o que dizem as leis: querem porque querem.

Passado um período inicial de prudente condescendência, em que ainda vigorava a esperança de que talvez alguns milhares de lunáticos compreenderiam que não podem anular a vontade expressa nas urnas por 60 milhões de brasileiros, é hora de fazer cumprir a lei.
O delírio continua e a cada dia fica mais violento, mais perigoso.

É possível fazer essa constatação ao observar a escalada de truculência que se verifica nas estradas, onde baderneiros se autointitulam patriotas para cometer atos terroristas.

Especialmente em Mato Grosso e Rondônia, queimam caminhões que não se submetem aos bloqueios, atiram em carros, fazem reféns. Junto da bandeira brasileira e das camisas da seleção, portam pistolas, fuzis e coquetéis molotov.

Além desses bandidos mais visíveis, há o golpismo infiltrado nas instituições da República, praticado por aqueles que deveriam fazer cumprir a legislação.

Nessa categoria estão personagens como Silvinei Vasques, diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que ficou célebre por determinar operação padrão contra veículos que transportavam para as zonas eleitorais os moradores de áreas pobres - em sua maioria simpatizantes de Lula. Vasques aumentou a fama negativa diante da leniência com que a PRF tratou os vândalos que bloquearam as estradas.

Mais grave ainda é o áudio do ministro Augusto Nardes, do Tribunal de Contas da União, uma explanação golpista em que ele anuncia ao interlocutor "o pior momento que a nação vai viver". Argumenta que "somos uma sociedade conservadora que não aceita as mudanças que estão sendo impostas".

Em tom de conspiração, Nardes afirma que "está acontecendo um movimento muito forte nas casernas" e em pouco tempo vai acontecer um "desenlace forte na nação", algo "imprevisível".

Refere-se aos petistas como inimigos, algo incompatível com a função de ministro do TCU. "Eles nunca aceitaram o diálogo, eles foram para o confronto. Agora é o confronto decisivo. Eles vão vir para um confronto que nós todos sabemos quais vão ser as consequências", diz. "Imagina eles com mais quatro anos de governo, o que vai acontecer na nação".

Depois que o áudio veio a público, o ministro uma nota em que lamenta a interpretação dada a suas palavras (?!) e arranjou uma licença médica que vai tirá-lo do olho do furacão por um tempo. Mas seu áudio não pode ser esquecido. É preciso que ele seja punido, não tem mais condições de exercer a função.

De Nardes ao diretor-geral da PRF, passando pelos empresários financiadores dos golpistas que aterrorizam as estradas e pelo líder evangélico que os insufla, nenhum deles merece mais um segundo de paciência dos executores da lei.

A eleição acabou, Lula venceu e vai tomar posse.

Golpismo é crime e os golpistas devem ser punidos.

Que isso aconteça imediatamente, antes que a ordem democrática e outros cidadãos inocentes sofram nas mãos desses baderneiros, usem eles camisa da seleção, farda ou terno e gravata.