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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Comandantes das Forças Armadas vão jogar hierarquia e disciplina no lixo?

 Almir Garnier (Marinha), Carlos de Almeida Baptista Junior (Força Aérea) e Marco Antônio Freire Gomes (Exército) - Divulgação
Almir Garnier (Marinha), Carlos de Almeida Baptista Junior (Força Aérea) e Marco Antônio Freire Gomes (Exército) Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

01/12/2022 17h16

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São cada vez mais fortes os rumores de que os comandantes Marco Antônio Freire Gomes (Exército), Carlos de Almeida Baptista Junior (Força Aérea) e Almir Garnier (Marinha) deixarão seus seus cargos na segunda quinzena de dezembro - antes, portanto, do fim do atual governo. O motivo da debandada corresponde a uma declaração de insubordinação. Sairiam antes da hora para não prestar continência ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, de quem questionam a legitimidade.

Na República do Brasil, como se sabe, militares não têm a prerrogativa de avalizar a legalidade ou legitimidade dos presidentes. É ao Poder Judiciário que cabe essa função. O vencedor da eleição ganha automaticamente a condição de comandante supremo das Forças Armadas, que devem dedicar-lhe obediência. É o que diz a Constituição.

Caso façam algo diferente disso, os comandantes estarão jogando no lixo dois princípios básicos do militarismo: a hierarquia e a disciplina.

Sobre esse tipo de situação, os comandantes deveriam ter em mente a avaliação de um personagem insuspeito: "As Forças Armadas se baseiam na hierarquia e na disciplina. Se elas fogem disso, viram um bando armado, que é o troço mais perigoso que tem". Quem disse essa frase foi Hamilton Mourão, o general da reserva que é vice-presidente de Jair Bolsonaro e se elegeu senador.

Nos últimos quatro anos, o projeto militar de tomada do poder pelo voto, personificado por Bolsonaro, conseguiu bagunçar completamente as Forças Armadas. Manifestações de opinião política de militares da ativa, algo vedado pelo regulamento da caserna, se tornaram algo frequente nos últimos tempos.

Algumas com promessas de desobediência ao Judiciário e outras com ameaças ao presidente eleito.

Não se sabe de punição aplicada pelos superiores.

Na mesma entrevista em que exaltou a obediência ao regulamento, Hamilton Mourão repetiu uma máxima que se tornou um clichê para os militares profissionais. "A política não pode estar dentro do quartel, pois fere de morte a hierarquia e a disciplina", disse.

Se cumprirem a ameaça de entregar os cargos antes do tempo, os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica entrarão para a História. Não destacados em uma galeria de honra, mas como aqueles que transformaram oficialmente as Forças Armadas do Brasil em algo muito parecido com um simples bando armado, como na advertência de Mourão.