Júlio Lancelotti critica ostentação de jogadores por comer 'carne de ouro'

O vídeo em que o ex-jogador Ronaldo aparece junto com pelo menos dois atletas da seleção brasileira, Vinicius Jr. e Éder Militão, em um restaurante no Qatar, comendo carne banhada a ouro 24 quilates, avaliada em R$ 9 mil, deixou inconformado o padre Júlio Lancellotti. Integrante da Pastoral do Povo de Rua, de São Paulo, ele disse à coluna que "a cena é chocante e questionadora dentro do contexto do que se vive não só no Qatar, mas no mundo todo, e do que se vive aqui no Brasil".

Padre Júlio registrou sua indignação no Twitter, onde publicou o vídeo dos jogadores no restaurante, junto com a palavra "vergonha".

Aos que comentam que "é o dinheiro é deles, eles fazem com o dinheiro que eles querem", ou comentam "eles têm merecimento, é o dinheiro que eles ganharam honestamente, eles podem usar no que eles querem", o padre responde: "É a forma de pensar meritocrática, é a forma de pensar do pensamento neoliberal e individualista. O que nós temos que trabalhar é um senso ético".

Para o religioso, a cena é descabida. "É escandaloso num país onde 33 milhões de pessoas vivem a fome, em um mundo onde há milhões de pessoas que passam fome e que morrem vítimas da desnutrição e num país como o Qatar, onde há uma imensa pobreza e grande desigualdade. É um acinte tamanha ostentação", critica ele.

"Eticamente não é aceitável. Para que filmar isso e mostrar? Pra que viver isto? Para filmar e mostrar", observa. "Seria um gesto muito mais solidário se todos eles partilhassem".

Não é uma questão de julgamento, garante padre Júlio. "Nenhum de nós pode julgar os outros e eu não tenho elementos, nem autoridade pra julgar nenhum deles, mas objetivamente é uma situação que chama atenção, que agrava a imagem que se tem da desigualdade, da indiferença e da ostentação", lamenta.