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Apoio de médium famoso a golpistas gera reação entre os espíritas
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A mistura de política e fé, que tanta discórdia tem causado nos últimos tempos no Brasil, não afetou somente os evangélicos e católicos. Uma declaração do mais famoso médium brasileiro, Divaldo Franco, em favor dos golpistas que depredaram as sedes dos poderes da República, em Brasília, no dia 8 de janeiro, causou forte reação entre os seguidores da religião espírita.
"Estamos vendo aí leis absurdas, prisões estúpidas sem julgamento. Como é que pegam pessoas na rua, botam no ônibus e levam para a cadeia?", questiona Divaldo, em vídeo publicado nas redes sociais em meados de fevereiro.
Com milhares de seguidores em várias plataformas, o médium mais conhecido do país espalhou desinformação. Contestou que os presos sejam terroristas, porque "ninguém estava com revólver, com faca, nem canivete, nem gilete, nem cortador de unha". Na verdade, muitos dos golpistas detidos portavam armas ou objetos que poderiam causar ferimentos.
Assim que a fala de Divaldo foi divulgada, tornou-se pública a insatisfação que muitos espíritas de linha progressista nutrem há algum tempo contra a postura reacionária de várias figuras de destaque nesse segmento religioso.
Um dos que fazem crítica é o engenheiro Sérgio Maurício Pinto, que faz parte da coordenação do grupo Espíritas à Esquerda. "Foi uma declaração lamentável de alguém que vem demonstrando nos últimos cinco anos um posicionamento de extrema direita, algo estranho para quem vinha ao longo dos anos repetindo que não se deve falar de política nas casas onde se pratica a religião", diz Pinto
Nos últimos tempos, relata o integrante do grupo de espíritas, o médium tem espalhado fake news sobre assuntos como vacina e marxismo. "Assunto sobre o qual ele nunca leu, não tem ideia do que é comunismo ou socialismo", reclama.
O baiano Divaldo Franco tem 95 anos e desde a morte de Chico Xavier é considerado o principal médium do país. Desde 1952, ele mantém em Salvador (BA) a instituição de caridade Mansão do Caminho. Lançou mais de 250 livros psicografados, que venderam cerca de oito milhões de exemplares.
A coluna pediu entrevista à diretoria executiva da instituição beneficente do médium, mas a resposta foi negativa. "Divaldo pediu-nos que lhe agradecêssemos, informando que está enfermo e não tem condições de ser entrevistado", retornou o diretor executivo João Neves.
"Queremos mostrar que há outras vozes no movimento espírita que não estão ligadas a esse reacionarismo abjeto", argumenta Pinto. "Divaldo não é o único, é apenas o mais conhecido".
Não faltam manifestações de figuras de destaque do espiritismo que confirmam essa tese. Como a psicóloga Ercília Zilli, presidente da Associação Brasileira de Psicólogos Espíritas (Abrape), que em uma palestra abordou a "ideologia de gênero", um conceito inexistente muito citado pelos reacionários brasileiros. "Veja que é fundamental olhar as leis que estão tentando passar aqui no Brasil onde o incesto e a pedofilia estariam liberados", disse ela, propagando uma informação mentirosa bem ao estilo das milícias digitais bolsonaristas.
Outro médium muito conhecido, André Luiz Ruiz, disse em uma explanação recente que os terremotos ocorridos na Turquia são "artificialmente produzidos" através de um mecanismo chamado "haarp". Essa é uma das fake news delirantes que são disseminadas nos grupos de WhatsApp da extrema-direita.
Mas o grande destaque, pela grande quantidade de seguidores, é mesmo Divaldo Franco. "O questionamento a ele vem de muito tempo. Há várias acusações de plágio contra Divaldo, o próprio Chico Xavier fez essa acusação", conta a médium Dora Incontri, presidente da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita.
Quanto ao posicionamento político reacionário, Dora diz que Divaldo não era tão explícito e tão radical antes do destaque que Jair Bolsonaro ganhou no cenário político brasileiro. "Cresceu o número de espíritas que se afastaram da religião porque algumas entidades e federações assumiram uma postura bolsonarista", explica ela. "Nesse contexto, surgiram vários coletivos para fazer um contraponto e mostrar o lado progressista da religião".
"O perigo é que todos achem que essa é uma posição reacionária é do espiritismo, mas não: essa é uma posição pessoal dele", afirma Dora, que desde que passou a criticar os radicais de direita dentro da religião, passou a receber xingamentos nas suas redes sociais.
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