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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como no Brasil, extrema direita faz vexame em Portugal

Lula discursa no Parlamento português - Reprodução
Lula discursa no Parlamento português Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

25/04/2023 09h11

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Comportamento desrespeitoso, falas estridentes, desapego às mais simples regras de convivência no Parlamento, aposta no caos. Assim trabalha a extrema direita brasileira desde 2019, quando Jair Bolsonaro chegou à Presidência do Brasil, rebaixando a política nacional ao nível de discussões de botequim.

Desde então, os principais interesses do país perderam espaço na pauta do Congresso, que já não era lá essas coisas, para dar lugar a baixarias e mentiras gritadas nos microfones da tribuna, do plenário e das salas de comissões. Um show de horrores.

Esse tipo de vexame, no entanto, não é exclusividade da política brasileira. A visita do presidente Lula a Portugal permite constatar que a selvageria é o modus operandi da extrema direita em todo o mundo.

Não há nenhum problema na intenção anunciada pelo deputado português André Ventura, líder do partido ultradireitista Chega, de fazer protestos contra Lula à frente do Parlamento. É do jogo democrático que políticos de correntes ideológicas antagônicas protestem uns contra os outros.

O problema é transformar o Parlamento em uma balbúrdia, como Ventura e seus apoiadores costumam fazer, para impedir os adversários de se manifestarem. Quando quem está com a palavra é um chefe de Estado visitante, que não pode falar por causa dos gritos dos direitistas, o vexame é ainda maior.

Foi o que quase aconteceu com o presidente brasileiro na manhã de hoje, no Parlamento português. No entanto, à bagunça ensaiada por André Ventura e os outros onze deputados de seu partido, reagiu com energia Augusto Santos Silva, presidente da Assembleia da República.

"Peço aos senhores deputados que querem permanecer na sessão plenária: têm que se portar com urbanidade, cortesia, educação que é exigida de qualquer representante do povo português", repreendeu Silva. "Chega! Chega de insultos, chega de degradarem as instituições, chega de porem vergonha no nome de Portugal!".

Foi entusiasticamente aplaudido.

O presidente do Brasil pôde, então, dar prosseguimento ao seu discurso.

Lá, como aqui, a extrema direita protagoniza cenas que achincalham a boa política e os verdadeiros interesses nacionais.

Aqui, como lá, os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, deveriam seguir o exemplo do português Augusto Santos Silva. É preciso indignar-se com a incivilidade.

Urbanidade, cortesia e educação não são requisitos secundários do ofício parlamentar. É a base sem a qual fica inviabilizado o principal instrumento da política: o diálogo.

Como exigiu o presidente da Assembleia da República de Portugal, que também no Brasil a extrema direita pare de nos envergonhar a cada sessão legislativa.