Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Mesmo no governo Lula, bolsonarismo continua influente na PRF
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Passados seis meses desde a posse, o governo do presidente Lula não conseguiu livrar uma das principais corporações policiais do país da influência do bolsonarismo. Nesse tempo, integrantes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) que tinham cargo de destaque no governo anterior e alguns que mostravam alinhamento indevido com o movimento ideológico liderado por Jair Bolsonaro foram promovidos ou mantidos em cargos de destaque na atual gestão.
No último ano, a PRF apareceu negativamente no noticiário. Sob o comando do diretor-geral Silvinei Vasques, um bolsonarista assumido, a corporação foi leniente com caminhoneiros e outros manifestantes que interditaram estradas em vários estados para pedir intervenção militar no país. Além disso, a Polícia Rodoviária fez bloqueios nas rodovias do Nordeste no dia do segundo turno das eleições, dificultando o tráfego de eleitores em regiões onde Lula era favorito. Por conta dessas irregularidades, a expectativa era de que houvesse uma grande mudança.
Não é o que se vê. Recentemente, a GloboNews noticiou o caso do policial Allyson Simensato da Silva, nomeado coordenador-geral de Combate ao Crime há poucas semanas. Foi ele quem, em fevereiro do ano passado, coordenou a repressão a manifestantes que protestavam pacificamente contra o então presidente Bolsonaro, que visitava a capital de Rondônia. Por causa disso, Silva é investigado pelo Ministério Público por cerceamento à liberdade de expressão.
Mas esse é apenas um entre vários casos.
O próprio responsável pela indicação de Silva, Marcus Vinicius de Almeida, escolhido já na gestão de Lula para ser o titular da Diretoria de Operações, é conhecido como entusiasta de Bolsonaro. Ele fez postagens em homenagem ao ex-presidente nas redes sociais - posteriormente apagadas.
A simples simpatia por um político não seria problema, se alguns dos nomes que escolheu para cargos de confiança não fossem suspeitos de envolvimento em episódios que caracterizam a contaminação da PRF pela ideologia bolsonarista.
Além de indicar Simensato, Almeida chamou para assessorá-lo em Brasília ex-superintendentes de estados nordestinos que estão sob suspeita de terem agido para impedir a votação de eleitores nordestinos onde Lula tinha grande favoritismo. É o caso de Giovanni Bosco Faria di Mambro, ex-superintendente da Paraíba, e Antônio Vital de Moraes Junior, ex-superintendente de Pernambuco.
Além disso, Paulo Fernando Nunes Moreno foi nomeado chefe da Corregedoria do Maranhão. Ele era superintendente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Piauí, estado onde ocorreram vários bloqueios no segundo turno de votação. À época, deu entrevista confirmando a orientação para inspecionar especificamente veículos que faziam o transporte de eleitores. Moreno pediu dispensa do cargo de superintendente após Lula assumir a Presidência e agora passa a ser corregedor na unidade maranhense.
Outro indicado de Almeida foi João Gabriel Dadalt, chefe do Serviço de Direitos Humanos da PRF no governo Bolsonaro. Ele ficou conhecido por não ter tratado em seu relatório em nenhum momento sobre violência nas abordagens policiais, mesmo após o caso Genivaldo e por ter criticado a atuação em Direitos Humanos das gestões anteriores. Desde o dia 24 de abril, ele passou a ser coordenador de Áreas Especializadas de Combate ao Crime da Coordenação-Geral de Combate ao Crime.
Procurada pela coluna, a Divisão de Comunicação Social da Polícia Rodoviária respondeu que "as escolhas para ocupar cargos dentro da instituição obedecem a critérios técnicos e são efetivadas após análise do histórico profissional dos indicados no órgão e no SINC - Sistema Integrado de Nomeações e Consultas Casa Civil".
Segue a nota de resposta informando que "o órgão faz uso da discricionariedade para nomear servidores para os cargos ou funções de confiança, e a exerce de maneira e nas condições que entenda mais convenientes para atender, objetivamente, ao interesse público". Segundo o texto, havendo "fatos que subsidiem a direção-geral para reavaliação de alguma indicação, está será realizada a critério da gestão".
Por fim, a PRF esclarece que as apurações a nível correicional a respeito da atuação do órgão no segundo turno das eleições de 2022 foram reabertas pela própria instituição, após substituição do corregedor-geral, e endossada pela Controladoria-Geral da União. "Comprovado qualquer fato que indique o desvio da conduta dos servidores por viés político-ideológico, restará à direção a reavaliação das nomeações, sem prejuízo às sanções administrativas e/ou judiciais", encerra a nota.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.