Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Entre minutas e grupos de zap, golpismo era trivial para bolsonaristas
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Há grupos de afinidade que se formam em torno dos mais variados temas. Alguns discutem futebol, outros, astrologia, há aqueles que preferem tatuagens ou Big Brother. Para os bolsonaristas de dentro e de fora do governo, o assunto favorito parecia ser mesmo o golpismo.
Nos aplicativos de mensagens dos seguidores de Jair Bolsonaro, era trivial bater papo sobre estratégias para impedir Lula de assumir a Presidência, fechamento do Supremo Tribunal Federal e Tribunal Superior Eleitoral, além de pedidos de intervenção das Forças Armadas.
Minutas com as bases para aplicar um golpe de Estado circulavam por todos os cantos, como se fossem receitas de bolo compartilhadas pelas tias do zap (o presidente do PL, Waldemar da Costa Neto, chegou a dizer que "todo mundo" tinha uma dessas minutas em casa).
Militares e integrantes do governo discutiam a implantação de um regime autoritário e xingavam as mais altas personalidades da República no mesmo tom irresponsável de torcedores revoltados com o time adversário. Um desses grupos de mensagem, que funcionou de 2016 até o último dia 8 de janeiro, foi revelado pela jornalista Juliana Dal Piva, em matéria publicada no UOL. Na reportagem, o coronel aviador reformado Francisco Dellamora conta que entre os participantes estava o general da reserva Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional na gestão Bolsonaro. Também havia militares da ativa
Segundo Dellamora, Heleno apenas lias as mensagens que defendiam intervenção das Forças Armadas e não fazia comentários. O general diz que não lembra do grupo e nem das mensagens, observa apenas que Dellamora é "muito velho" e que não sabe qual importância ele tem "no quadro político nacional hoje".
Tão banais se tornaram as tramas golpistas em grupos de seguidores de Bolsonaro que o ex-ministro nem tomou a providência obrigatória de denunciar os conspiradores da ativa ao comando das Forças Armadas. Concordava com eles?
São os frequentadores de discussões como essas que agora tentam convencer os brasileiros que é um exagero falar em golpe de Estado, mesmo diante do detalhamento que se viu nos planos encontrados no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente.
Tentam desfazer qualquer relação entre confabulações como essa e a invasão de golpistas às sedes dos poderes da República, em janeiro. Como se fosse possível.
As instituições brasileiras têm que responder com firmeza a essa tentativa de normalização do golpe.
Não se trata de expressar vingança, mas apenas de mostrar à sociedade de forma pedagógica que soluções autoritárias não serão aceitas por aqui.
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