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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Coronel golpista que era leão no celular de Mauro Cid vira gatinho na CPMI

Colunista do UOL

27/06/2023 14h20

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Na investigação do movimento golpista que recentemente ameaçou a democracia brasileira, os momentos mais lamentáveis acontecem quando os conspiradores são chamados às falas. Depois de flagrados em ações ferozes contra a ordem constitucional do país, se transformam em cidadãos mansos perante as autoridades, juram nunca ter trabalhado contra as instituições.

Esse papel humilhante foi cumprido pelo coronel do Exército Jean Lawand Júnior, em seu depoimento como testemunha na CPMI do 8/1. Ele foi flagrado em diálogos golpistas que travou por aplicativo de mensagem com o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro,. Mauro Cid hoje está preso.

Em novembro e dezembro, quando era subchefe do Estado-Maior do Exército, Lawand rugiu no celular de Mauro Cid pedindo que Bolsonaro liderasse um golpe.

"Pelo amor de Deus, Cidão. Pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele a fazer. Ele não pode recuar agora", escreveu, então.

Hoje, à frente dos parlamentares da CPMI, o coronel já não rugia, apenas miava. Desfiou um monte de desculpas esfarrapadas e explicações inverossímeis, segundo as quais sua intenção era pacificar o país e evitar um levante popular — algo completamente incompatível com as mensagens que enviou.

"Em nenhum momento atentei contra a democracia brasileira", argumentou Lawand, no Congresso. "Em nenhum momento quis quebrar, destituir, agredir qualquer uma das instituições".

Parece incrível que o homem que disse essas palavras seja o mesmo que se declarou frustrado quando Mauro Cid o informou que não haveria golpe:
"Decepção irmão. Entregamos o país aos bandidos".

Também se mostrou solidário aos manifestantes que estavam à porta dos quartéis, contrários à posse de Lula. " Avisem a quem está há 52 dias cagando em banheiro químico e pegando chuva", vociferou.

Não parece existir nexo entre aquele oficial que no fim do ano passado criticava a "cúpula do Exército" por não compartilhar o espírito golpista de Bolsonaro e o depoente que na comissão parlamentar disse que seu objetivo era apaziguar o país. E realmente não existe.

Assim como o terrorista George Washington, que tentou explodir uma bomba no Aeroporto de Brasília, Lawand não admitiu sua culpa evidente, não se desculpou por atacar a democracia, tentou apenas inventar versões para escapar da condenação na CPMI e no Judiciário.

O coronel, que até poucos meses era um leão, se apresentou manso como um gatinho, para tentar convencer a todos que nunca representou perigo para a democracia.

Apesar da encenação humilhante, ninguém acreditou.