Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
No Chile, extrema direita tenta eleger seu Bolsonaro com mesma cartilha
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Cesar Calejon
O Chile vai às urnas para decidir o seu próximo presidente. No pleito mais polarizado desde a redemocratização do país, a extrema direita (local e global) tenta emular os métodos que foram usados nas eleições de Jair Bolsonaro e Donald Trump e no Brexit, por exemplo.
José Antonio Kast, candidato de extrema direita pela Frente Social Cristã, é aliado ao The Movement, de Steve Bannon. Assim como aconteceu nos EUA, em 2016, e no Brasil, em 2018, o time de Bannon vem empregando táticas para difundir notícias falsas de todas as ordens, agudizar o ódio, o dogma religioso, a xenofobia e o anticomunismo na população chilena.
Apoiado pela narrativa da segurança, da família tradicional (com redução dos benefícios às mães solteiras) e a manutenção de um "estado mínimo" (preceito neoliberal para manter o estado a serviço dos seus interesses), Kast vem promovendo uma espécie de intoxicação midiática que lhe permite esvaziar o debate e distrair a atenção pública dos seus problemas e inconsistências.
Há duas semanas, diversos institutos de pesquisa chilenos apontavam como vencedor o candidato da esquerda, Gabriel Boric. Contudo, em entrevista à coluna essa semana, Victor Pino, editor de política da rádio Val Paraíso e membro da Comissão de Direitos Humanos do Sindicato dos Jornalistas do Chile, afirma perceber uma vantagem para o candidato da extrema direita.
"Como eu vejo, trata-se de um pleito muito apertado, mas as chances do Kast são maiores devido ao uso de elementos conhecidos da população brasileira: manipulação de grupos de WhatsApp, o uso de notícias falsas e um programa de governo fortemente baseado em pautas como a manutenção da 'família tradicional cristã', a agenda neoliberal e a segurança pública, em um país que foi dominado por manifestações ao longo dos últimos dois anos", ressalta Pino.
Ainda de acordo com o analista, há provas do envolvimento de Kast, que, caso seja eleito, promete construir uma trincheira no deserto do Atacama para impedir a entrada de imigrantes haitianos e venezuelanos, principalmente, com o movimento liderado por Bannon.
"Ao passar para o segundo turno (há três semanas), Kast embarcou para Washington, nos EUA, onde encontrou-se com figuras ligadas ao ex-presidente Trump, seu assessor Bannon e o movimento de extrema direita mundial. Reuniões com o senador Marco Rubio (Republicano) e com a presidente do Conselho das Américas (fundado por David Rockefeller na década de 1960), Susan Segal, constaram na agenda oficial do candidato", acrescenta o jornalista.
Kast também já declarou a sua proximidade com o Vox, partido espanhol, e com a ultradireita de países como a Itália e a Polônia. Todos esses grupos estão ligados ao movimento de Bannon.
As táticas da sua campanha incluem a divulgação de notícias falsas, por meio de perfis oficiais de seus apoiadores, montagens de fotos e o discurso anticomunista, que foi repercutido pelo empresário mais rico do Chile, Andrónico Luksic, proprietário de uma das principais redes de rádio e televisão do país, o Canal 13.
Essa metodologia permitiu que Kast passasse, em apenas quatro anos (entre 2017 e 2021), de 7,9% para 27,9% considerando os votos válidos nos respectivos primeiros turnos das eleições presidenciais.
"A exemplo do aconteceu no Brasil, partes da classe artística e dos movimentos sociais uniram-se à candidatura de Boric, porém, as ferramentas e a retórica de Kast, que é filho de um ex-oficial nazista, permearam a sociedade chilena e poderão radicalizar ainda mais o governo direitista que está vigente desde 2018", conclui o analista.
Assim como o governo golpista de Michel Temer foi agudizado pela ascensão do bolsonarismo, a influência de Steve Bannon na América do Sul promete pavimentar o caminho para a ascensão de uma nova administração de caráter fascista no continente, caso a vitória de Kast seja confirmada nesse domingo.
Nesse sentido, as eleições chilenas servem de alerta máximo para o próximo pleito presidencial do Brasil e das possíveis ingerências estrangeiras que tentarão repetir a dose que levou o bolsonarismo ao poder em 2018.
Cesar Calejon é jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela FGV e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela USP (EACH), e escritor, autor dos livros A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI (Kotter) e Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil (Contracorrente).
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.