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Privatização da Petrobras segue mesma cartilha que nos trouxe à crise
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* Cesar Calejon
Conforme a derrota nas eleições presidenciais se torna iminente, o governo Bolsonaro tenta concretizar os objetivos para os quais foi eleito: entregar os principais recursos do Brasil para forças estrangeiras sem nenhum tipo de contestação. Neste contexto, a proposta de privatização da Petrobras e do pré-sal caracteriza uma covardia típica deste governo, que trata temas prioritários para o país com a seriedade de uma discussão de bar.
Nem durante a ditadura militar, o governo brasileiro atentou de forma tão enfática contra a própria soberania nacional como o que aconteceria em caso de privatização da petroleira pelo bolsonarismo. Até no governo Médici, por exemplo, entre novembro de 1969 e março de 1974, auge do período que foi intitulado como os "anos de chumbo", houve a celebração de acordos e iniciativas de cooperação com os vizinhos regionais da América do Sul em que se manifestavam tendências localizadas à esquerda no espectro político-ideológico.
Comandada pelo chanceler Mário Gibson Barbosa, a política externa brasileira durante o governo ditatorial Médici demarcou as duzentas milhas de mar territorial na costa brasileira, o que se converteu na formação da Zona Econômica Exclusiva e, atualmente, oferece reflexos significativos na exploração das reservas naturais de petróleo que foram intituladas "pré-sal".
Na manhã de hoje (12), Adolfo Sachsida, novo ministro bolsonarista de Minas e Energia, apresentou um pedido para que sejam iniciados estudos sobre a venda da Petrobras e da Pré-Sal Petróleo S.A., sob o pretexto de que o movimento trará uma série de benefícios aos consumidores e servirá para tornar o estado brasileiro mais leve.
A mesma receita neoliberal que vem sendo implantada desde o impeachment de Dilma Rousseff, tendo como resultado desemprego, precarização do trabalho, fome, miséria, alta do preço dos combustíveis e um colapso socioeconômico, em última instância.
Seja capitalista ou comunista, nenhuma nação soberana do mundo privatiza empresas que são estratégicas para o desenvolvimento do estado. Muito pelo contrário, essas companhias são tratadas com todo o zelo pelo ente estatal. No Brasil, para retomar a capacidade de crescimento da economia, faz-se necessário um estado que seja capaz de planejar essas questões fundamentais que remetem ao interesse nacional.
Além de evitar a entrega das joias nacionais, conforme a França fez com o setor de caldeiras da Alstom, quando o vendeu para a General Electric, por exemplo, o que tolheu a capacidade de atuação nuclear do país europeu para favorecer os Estados Unidos, o Brasil precisa que as principais empresas estatais estejam diretamente ligadas à Presidência da República no novo governo que se iniciará a partir de 2023, a exemplo do papel que exerce a SASAC chinesa. Sob esse modelo, a China foi o país que mais cresceu no mundo ao longo das últimas décadas.
O BNDES, a Eletrobras, a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, o BNB, o Banco da Amazônia, a Embrapa, a Embraer, entre outras, são companhias estratégicas e que não podem ser submetidas à sanha neoliberal, principalmente sob o comando de figuras ineptas e sem nenhum compromisso com o povo brasileiro, como é, precisamente, o caso dos ministros bolsonaristas.
* Cesar Calejon é jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela FGV e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela USP (EACH). É escritor, autor dos livros A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI (Kotter), Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil (Contracorrente) e Sobre Perdas e Danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil (Kotter).
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