Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Caso Arruda demonstra como bolsonaristas defendem o indefensável
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Cesar Calejon*
Sofismas, paralogismos, tautologia, verborragia e malabarismos semânticos. Em quase quatro anos de governo, o bolsonarismo especializou-se em defender o indefensável. São ofensas que usam arrobas para se referirem a seres humanos, rebaixam as mulheres e a comunidade LGBTQIA+ e estimulam o uso deliberado da violência.
Neste contexto, o assassinato de Marcelo Arruda e a subsequente interpretação da Polícia Civil do Paraná, que se baseou em relato da esposa do próprio assassino para afastar a hipótese de crime de ódio com motivação política, é apenas o exemplo mais recente e gráfico deste processo. Para o bolsonarismo e o seus seguidores, absolutamente tudo pode ser relativizado.
Alguns fatos são inacreditáveis neste contexto: (1) festa foi invadida pelo assassino por conta da decoração temática que remetia à preferência de Arruda, (2) o assassino chegou ao local gritando "Bolsonaro" e "mito" e (3) o próprio presidente da República orientou os seus seguidores com a frase "vamos fuzilar a petralhada" alguns anos antes. Descaradamente, Bolsonaro ainda se sentiu no direito de se irritar como uma jornalista que o questionou sobre essa frase, afirmando que se tratava de "sentido figurado".
Apesar de tudo isso e da própria investigação ter concluiu que o atirador foi ao local por motivação política para "provocar" os participantes da festa, a Polícia Civil afirma não haver provas suficientes para constatar que houve crime de ódio.
Para Camila Cecconello, chefe da DHPP (Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa) e responsável pela investigação, "(...) não há provas de que ele (o assassino) voltou para cometer crime político. É difícil falar que ele matou pelo fato de a vítima ser petista. Ele voltou porque se mostrou ofendido pelo acirramento da discussão", relativizou a delegada.
Sob o bolsonarismo, a defesa do indefensável, por meio deste tipo de verborragia, malabarismo semântico e exercício de tautologia foi levada ao paroxismo no Brasil.
O próprio Jair Bolsonaro, apesar estimular a disseminação de ódio de forma sem precedente no país durante anos, agora diz que dispensa o apoio de pessoas que eventualmente sigam as suas orientações.
O método lembra muito o que fez Adolf Hitler, que após estimular o conflito na Europa durante décadas, prosseguiu, com um nível surreal de desfaçatez, para afirmar que eram os alemães que não estavam à altura do projeto que ele havia idealizado para a nação.
Com a queda do bolsonarismo, acontecerá o mesmo e todas essas pessoas que fazem exercícios esdrúxulos de relativização barata serão abandonadas à própria sorte e descartadas como criaturas inferiores aos propósitos do seu antigo líder. Esse é o preço que pagam as figuras que se propõem a defender o indefensável, em última instância.
* Cesar Calejon é jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela FGV e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela USP (EACH). É escritor, autor dos livros A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI (Kotter), Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil (Contracorrente) e Sobre Perdas e Danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil (Kotter).
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