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OPINIÃO

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Bolsonaro confere tom fascista à Independência do Brasil

Jair Bolsonaro e a esposa, Michelle, participam do desfile em comemoração do 7 de Setembro em Brasília - 7.set.2022 - Wilton Júnior/Estadão Conteúdo
Jair Bolsonaro e a esposa, Michelle, participam do desfile em comemoração do 7 de Setembro em Brasília Imagem: 7.set.2022 - Wilton Júnior/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

07/09/2022 10h35

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Cesar Calejon*

Desde que ascendeu ao poder, o bolsonarismo apropriou-se de símbolos extremamente poderosos na cultura popular nacional: a bandeira brasileira, a suposta organização da "família tradicional", do caráter das "pessoas de bem", do combate ao "comunismo" e ao "marxismo cultural" e, levianamente, até o que seria a palavra do próprio Jesus Cristo.

Exceto pelo aspecto pseudocristão que faz parte do bolsonarismo, todas as outras dimensões avançadas pelo atual governo remetem ao nazifascismo que levou a Europa ao maior conflito armado da história durante a primeira metade do século passado.

Hoje, quando o país completa os duzentos anos da sua independência formal, Bolsonaro confere esse mesmo tom fascista à Independência do Brasil.

Uso aqui o termo "independência formal", pois o Brasil jamais emancipou-se da dominação de influências estrangeiras e do domínio do grande capital. O próprio ato do dia 7 de setembro de 1822 foi organizado pela elite agrária da época que, percebendo uma tentativa de recolonização e uma possível perda dos benefícios adquiridos, reuniu oito mil assinaturas e organizou-se pela permanência de D. Pedro 1º em solo brasileiro.

Ou seja, o que estava em jogo não era o interesse e a emancipação da maioria da população brasileira, mas da elite econômica que queria manter os seus privilégios. Precisamente o que acontece nesta data, duzentos anos depois.

Apesar disso, o ato convocado por Bolsonaro nesta quarta-feira se parece mais com outro movimento, que, curiosamente, aconteceu cem anos depois da Independência do Brasil e cem anos atrás, em 1922, na Itália.

A Marcha sobre Roma foi realizada pelos fascistas na cidade de Roma, no dia 28 de outubro daquele ano. Seguindo as ordens de Mussolini, a liderança do Partido Fascista convocou a população italiana para exercer pressão sobre a monarquia da época, que deveria nomeá-lo como primeiro-ministro da nação.

Os fascistas organizaram a tomada do poder pela via eleitoral, mas estavam dispostos a utilizar a violência, caso fosse necessário. Hoje, o bolsonarismo tenta a sua cartada final com ares de Marcha de Roma. Com uma cerimônia militar em frente ao Forte de Copacabana, apresentação da esquadrilha da fumaça, da Marinha do Brasil e manifestação a pé de apoiadores de Jair Bolsonaro, o 7 de Setembro, no Rio de Janeiro, deverá contar até com o desfile de motos aquáticas, na praia de Copacabana.

Mussolini adorava motos e fazia questão de ser registrado com as máquinas. O facínora italiano não usou os jet skis porque eles simplesmente não existiam em 1922.

Todas as reivindicações e os posicionamentos dos bolsonaristas e dos fascistas são assustadoramente idênticas. Parece que a história se repete como farsa no Brasil em 2022, o que pode ser extremamente perigoso para Jair Bolsonaro, considerando o fim trágico ao qual foi submetido o próprio Mussolini.

* Cesar Calejon é jornalista, com especialização em Relações Internacionais pela FGV e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela USP (EACH). É escritor, autor dos livros A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI (Kotter), Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil (Contracorrente) e Sobre Perdas e Danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil (Kotter).