Topo

Crise Climática

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Fundos de pensão britânicos financiam desmatamento, diz relatório

Vista aérea de desmatamento na Amazônia para expansão da pecuária, em Lábrea (AM) - Victor Moriyama/Amazônia em Chamas
Vista aérea de desmatamento na Amazônia para expansão da pecuária, em Lábrea (AM) Imagem: Victor Moriyama/Amazônia em Chamas

Colaboração para o UOL, em São Paulo

24/02/2022 11h00

Esta é parte da versão online da edição desta quinta-feira (24/02) da newsletter Crise Climática, que discute questões envolvendo a emergência climática, como elas já afetam o mundo e quais são as previsões e soluções para o futuro. Para assinar o boletim e ter acesso ao conteúdo completo, clique aqui

No Reino Unido, duas em cada dez libras investidas em fundos de pensão estão ligadas ao desmatamento no exterior. Isso é equivalente a cerca de 300 bilhões de libras (US$ 406 bilhões) dos pensionistas britânicos financiando cortes de floresta. A informação é de um estudo divulgado na quarta-feira (23) pelo grupo ativista MMM (Make My Money Matter) em parceria com Global Canopy e Systemiq.

A conexão com o desmatamento, segundo a pesquisa, se dá pelo financiamento de empresas ligadas à importação de commodities agrícolas e florestais, como soja, carne e madeira. O Brasil é o destaque do levantamento, que usa dados do Imazon para informar que o desmatamento no país cresceu 29% em 2021 na comparação com 2020.

À Sky News, Sônia Guajajara, coordenadora executiva da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) disse que os poupadores britânicos "têm poder para ajudar a salvar as florestas", e exortou as pessoas a "usar sua voz para mudar a maneira como sua aposentadoria é investida, criando um mundo no qual você realmente vai querer se aposentar."

A reportagem da emissora britânica ouviu ainda o representante dos fundos de pensão do país, Nigel Peaple, que criticou a metodologia para chegar ao valor de 300 bilhões de libras e disse que os administradores são mais seletivos na decisão de investir em empresas com histórico ambiental ruim do que a pesquisa sugere. Ele reconheceu, contudo, que tais empresas não estão desempenhando bem os investimentos de longo prazo que já receberam.

O estudo faz parte de uma campanha, liderada pelo ator Richard Curtis, que incentiva cidadãos britânicos a vigiar para onde seus investimentos estão sendo direcionados e cobrar que empresas ligadas ao desmatamento sejam proibidas de acessar os recursos. "Não pode haver ação sobre a mudança climática sem enfrentar o desmatamento", disse Curtis à Sky News.

Os fundos de pensão no Reino Unido administram aproximadamente 2.7 trilhões de libras (US$ 3,6 trilhões). As aposentadorias dos países ricos são instrumentos econômicos poderosos e podem ser usadas contra empresas implicadas no agravamento das mudanças climáticas, sugere uma pesquisa da Universidade de Washington.

Medidas regulatórias podem acelerar este processo, diferenciando empresas com bom ou mau desempenho climático. Um projeto de lei na União Europeia deve obrigar os importadores a provar que estão livres de desmatamento e de violações aos direitos humanos por meio de uma coleta obrigatória e detalhada de informações da cadeia de suprimento, incluindo coordenadas geográficas. O alvo da legislação será o setor agrícola, especificamente commodities de alto risco, como carne bovina, madeira e soja. O descumprimento pode levar à proibição das atividades da empresa no bloco europeu.

O Reino Unido estabeleceu em novembro de 2021 uma lei semelhante, que torna ilegal para as empresas do país o uso de produtos ligados ao desmatamento considerado ilegal no país de origem. Anfitrião da Conferência do Clima da ONU em 2021, o país tem tentado liderar globalmente o combate à crise do clima.

E o que mais você precisa saber:

Cortar na carne

Carne, Marfrig - Paulo Whitaker/Reuters  - Paulo Whitaker/Reuters
7.out.2011 - Operário em linha de processamento de frigorífico da Marfrig, localizado na cidade de Promissão, no interior de São Paulo (SP)
Imagem: Paulo Whitaker/Reuters

A Marfrig pediu e não levou o empréstimo de US$ 200 milhões que solicitou ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Segundo apuração da Bloomberg, o pedido foi negado porque o banco não conseguiu concordar com a empresa sobre objetivos ambientais. Há um mês, o site mostrava estratégias de empresas brasileiras de carne para esconder suas conexões com gado criado em áreas de desmatamento recente. Antes, o Norges Bank já tinha colocado a Marfrig sob investigação para possível exclusão de investimentos do fundo de pensão da Noruega por riscos ambientais.

Cúmplices da destruição

Um relatório feito por APIB e a Amazon Watch mostra que o desmatamento com origem na mineração cresceu 62% sob o governo Bolsonaro e têm como alvo principal os Territórios Indígenas (TIs). Vale, Anglo American, Belo Sun, Glencore, AngloGold Ashanti, Rio Tinto, Potássio do Brasil e Grupo Minsur são as nove empresas grandes que pediram para minerar nessas áreas. O Fundo Previ foi a instituição financeira que mais investiu (US$ 7,4 bi) em mineradoras com atividades que impactam diretamente TIs na Amazônia, seguido por Bradesco (US$ 4,4 bi) e a Caixa Econômica Federal, (US$ 786 milhões). Bancos dos EUA investiram juntos mais de US$ 14 bilhões.

Operação Caribe Amazônico

Dois destaques da reportagem de Sônia Bridi para o Fantástico no último domingo (20/2) sobre a contaminação em Alter do Chão (PA).

O garimpo é uma atividade milionária que usa pessoas pobres sem dar a elas chances reais de uma vida digna. "A vida passou por mim e não vi", disse um garimpeiro de 44 anos flagrado em condições precárias em ação de fiscalização e que está no garimpo desde os 16. O segundo destaque é a resiliência do IBAMA, que vem sofrendo um forte processo de esvaziamento, mas continua enfrentando o crime ambiental organizado.

Um país na lama

Na semana passada, a maior chuva da história de Petrópolis (RJ) escancarou a precariedade das políticas de prevenção a desastres naturais no Brasil em meio ao agravamento da crise do clima. Nesta semana, o destaque é a precariedade no socorro às vítimas, com moradores cavando escombros com as próprias mãos em busca de familiares soterrados mais de uma semana depois do incidente. O exército não aceitou mostrar ao UOL como a instituição está colocando a mão na massa na limpeza da cidade, enquanto autoridades locais disputam palanque e trocam acusações.

Você conhece?

Tempestades extremas, ondas de calor, frio no verão, estiagens prolongadas, mega incêndios em áreas úmidas. Eventos extremos como estes têm chamado a atenção em todo o mundo pela intensidade e proximidade com que ocorrem. A meteorologista e divulgadora científica Josélia Pegorim comanda o Podcast O Clima entre Nós, que "traduz" o conhecimento de pesquisadores convidados sobre eventos meteorológicos e suas relações com as ações humanas e com o clima da Terra.

LEIA MAIS NA NEWSLETTER

Se os projetos contratados pelo governo para expandir a infraestrutura de gás saírem do papel, a conta de luz ficará mais cara no Brasil. Se as renováveis eólica e solar continuarem se expandindo nos patamares atuais, esses mesmos gasodutos ficarão obsoletos logo após a conclusão. Segundo estudo, o país desperdiçaria US$ 22 bi.

Assinante UOL tem acesso a todos os conteúdos exclusivos do site, newsletters, blogs e colunas, dicas de investimentos e mais. Para assinar o boletim Crise Climática e conhecer nossas outras newsletters, clique aqui.