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Cristina Tardáguila

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Aqui estão as mentiras que você ainda ouvirá sobre passaporte sanitário

Colunista do UOL

09/12/2021 11h57

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Ao atacar o passaporte sanitário, o governo brasileiro já fez de tudo um pouco. Já vociferou contra a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e disse que o documento é uma "coleira". Já alegou que o pedaço de papel que registra as vacinas tomadas por um determinado indivíduo é um ataque à liberdade. E já ameaçou mudar leis. Sempre de forma a - mais uma vez - dificultar o combate à pandemia.

Mas quem acompanha o movimento anti-vacina e a onda de desinformação que ele promove pelo mundo sabe que o rol de mentiras sobre o passaporte sanitário é amplo e só está começando. Então, aqui vai uma lista de falácias que circularam por outras partes do planeta e que você ainda pode escutar no Brasil. São conteúdos absurdos que vão de trechos extraídos da Bíblia a imagens manipuladas. Vacine-se contra esses absurdos. O passaporte sanitário é importante e não faz mal a ninguém.

A "marca da besta"

Se o governo federal mantiver o padrão de copiar as mentiras ditas e ouvidas nos Estados Unidos, vem por aí uma referência religiosa na crítica ao passaporte sanitário. Em um único vídeo, publicado no Twitter em 30 de março deste ano e compartilhado mais de 9 mil vezes, a deputada republicana Marjorie Taylor Greene suscitou uma expressão do livro do Apocalipse para amplificar seu ataque ao passaporte vacinal.

Na gravação, ela disse que o documento que atesta a imunização do cidadão contra a covid-19 é a "marca da besta". Segundo a Bíblia, quando o Apocalipse chegar, este sinal aparecerá na mão direita ou na testa dos indivíduos autorizados a "comprar e vender" - ou seja, estar em sociedade.

Mas o truque da deputada saiu pela culatra. Um grupo de mais de 5,4 mil cristãos veio a público para classificar seu comentário como uma "blasfêmia". Ficou ruim para Taylor Greene. Leia na Univision (em espanhol).

"Para rastrear o cidadão"

Em 12 de novembro, circulou pelo Twitter um vídeo de uma conspiracionista sugerindo que os passaportes sanitários eram parte de um plano global para controlar o ir e vir dos cidadãos e, inclusive, registrar suas atividades financeiras.

"Não é a primeira vez na história que leis relacionadas a pragas são usadas para centralizar o poder e o controle. Controle sobre o transporte. Controle sobre o trabalho. Controle sobre os bancos e as contas bancárias. Controle de todas as atividades humanas", vociferou Catherine Fitts.

A colocação, no entanto, não passa de uma teoria da conspiração. Como alertam os checadores do Lead Stories (em inglês), os passaportes sanitários não são recolhidos por nenhuma organização. Fitts, aliás, não apresentou dados que sustentem sua argumentação.

Imagens de protestos "contra o passaporte sanitário"

Viralizam nas redes sociais dezenas de protestos que, segundo os anti-vacinas, seriam contra a exigência do passaporte sanitário. Diversos desses vídeos e imagens já foram desmentidos por não terem qualquer associação com o documento obtido por quem se imuniza.

Em 22 de outubro, os checadores americanos do FactCheck.org demonstraram que a imagem que circulava nas redes como sendo um grande protesto em Trieste, na Itália, contra o passaporte vacinal era, na realidade, um show de música na Suíça.

Em 19 de outubro, a equipe de verificação da AFP detectou que uma imagem de um homem destruindo um "leitor de passaporte sanitário", que viralizou nas redes, foi feita antes da pandemia e, na verdade, reflete um ataque a uma máquina de check-in em um aeroporto da Coreia do Sul.

Em 31 de agosto, os fact-checkers indianos do Boom riram alto ao detectar que uma foto que, para os anti-vacinas, mostrava um protesto francês contra o passaporte sanitário era, na realidade, parte de um vídeo de 2016 com fãs de futebol.

A lista vai crescer - e até os checadores vão se surpreender. Mas você já está avisado e, é claro, não vai acreditar nas falácias nem passá-las para frente.

Cristina Tardáguila é diretora sênior de programas do ICFJ e fundadora da Agência Lupa