Por que é muito cedo para Joe Biden cantar vitória
O democrata Joe Biden está sendo tratado como claro favorito à eleição presidencial nos Estados Unidos, marcada para o dia 3 de novembro, contra o republicano Donald Trump, que tentará se reeleger. Biden lidera as pesquisas de intenção de voto com uma vantagem média de 7,9 pontos percentuais.
Um dado ainda mais relevante é o fato de Biden, que terá sua candidatura confirmada esta semana em convenção virtual do Partido Democrata, estar à frente de Trump em estados cruciais para uma vitória no colégio eleitoral — nos Estados Unidos, a escolha do presidente se dá pelo voto indireto, por meio de delegados cujo número é definido nos pleitos em nível estadual.
Não faltam, porém, motivos para os democratas tomarem cuidado com previsões demasiadamente otimistas.
O primeiro deles é o fato de que ainda faltam pouco mais de dois meses para o encerramento das eleições (em muitos estados, os cidadãos poderão enviar seus votos por correio com antecedência). E, historicamente, esse é um período marcado por grandes viradas na preferência do eleitorado.
Apenas para pegar o exemplo mais recente, em meado de agosto de 2016 a democrata Hillary Clinton liderava as pesquisas com uma vantagem de 6,6 pontos percentuais. A margem foi diminuindo até que, na contagem final, ela teve 2,8 milhões de votos a mais que o oponente Donald Trump, ou seja, com uma vantagem de 2,1 pontos percentuais sobre o republicano.
Mas Trump derrotou Hillary Clinton no colégio eleitoral, pois venceu em estados que designam um número significativo dos delegados, que é o que importa, e tornou-se presidente. Ele conseguiu 34 votos de delegados a mais do que mínimo necessário para ser eleito.
O fator colégio eleitoral está relacionado ao segundo motivo para não dar como certa a vitória de Biden este ano. Hillary Clinton, em 2016, também liderava as pesquisas em estados cruciais ou que, de uma eleição para outra, pendem ora para um candidato republicano, ora para um democrata.
Esses estados com tendência à volatilidade eleitoral, os chamados swing states, têm justamente a característica de serem decididos apenas muito perto ou no dia da eleição. Acredita-se que, em 2016, Trump virou o jogo nesses estados — e em outros, tradicionalmente democratas — poucos dias antes da votação.
Quando se compara o desempenho de Biden com o de Hillary em estágios semelhantes de suas campanhas em cinco estados cruciais (Pennsylvania, Michigan, Wisconsin, Florida, North Carolina, Arizona), descobre-se que a vantagem que ela tinha sobre Trump era 0,6 ponto percentual maior do que Biden tem hoje, segunda média de pesquisas feita pelo site americano RealClearPolitics.
Biden está 4,3 pontos percentuais à frente de Trump nesses estados, enquanto Hillary, em agosto de 2016, tinha uma vantagem de 4,9 pontos em relação ao adversário republicano. Trump, portanto, tem uma proporção menor de votos a recuperar este ano nos estados cruciais do que tinha em 2016.
É verdade que, em 2016, Trump teve um impulso decisivo para sua vitória a uma semana da eleição quando James Coley, então diretor do FBI (a polícia federal americana), anunciou que havia reaberto uma investigação sobre o uso indevido de um servidor de email secreto mantido por Hillary quando ela era secretária de Estado no governo Barack Obama.
Guardadas as devidas proporções, do ponto de vista do impacto eleitoral, seria o equivalente a divulgar as investigações sobre o esquema de rachadinha operado por Fabrício Queiroz, chefe de gabinete de Flávio Bolsonaro, antes do segundo turno das eleições de 2018, e não apenas em dezembro, quando o seu amigo Jair Bolsonaro já era presidente eleito.
Ou seja, Biden, atualmente, é o favorito para se tornar o próximo presidente dos Estados Unidos. Mas muita coisa ainda pode acontecer até o dia da eleição e mudar radicalmente essa previsão.
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