Mesmo derrotado, trumpismo sobreviverá por anos
O presidente americano Donald Trump se recusou a aceitar a vitória de Joe Biden nas eleições dos Estados Unidos. Desde antes das eleições, dizia sem constrangimentos que uma fraude estava sendo montada e que não aceitaria o resultado, caso Biden vencesse.
Tentativa de vencer no tapetão, com contestações na Justiça, recontagem de votos, confusão no Colégio Eleitoral. Podemos ver tudo isso nas próximas semanas.
Biden teve uma vitória incontestável, com votos suficientes, e nos lugares certos, para tirar Trump do poder. Mas não é o bastante para declarar defunta a vertente política populista inaugurada por Trump.
Convém aqui definir, rapidamente, o que é populismo. Não se trata de uma ideologia ou corrente política, mas de um estilo de liderança ou uma forma de fazer política. Ser populista não é a mesma coisa que ser popular. O primeiro invariavelmente leva ao autoritarismo. O segundo é plenamente compatível com a democracia.
Os populistas costumam ser líderes carismáticos, personalistas, que se apresentam como representantes do povo no embate contra as "elites", sejam elas políticas, econômicas ou "midiáticas". O "povo" dos populistas é um conceito à parte: trata-se sempre de um bloco monolítico, indivisível, que pensa em uníssono — ou que, de preferência, não pense, apenas repita o que diz o líder.
Pois o populismo trumpista não só não está morto como sobreviverá por anos na sociedade americana, influenciando a política e colocando empecilhos a qualquer esforço que o próximo presidente vier a fazer para sanar a polarização, o clima de "nós contra eles" que se instalou no país nos últimos quatro anos.
Trump ou seus sucessores (sempre haverá discípulos para replicar o estilo do mestre e aperfeiçoá-lo) continuarão em campanha mesmo depois da posse de Biden, em 20 de janeiro de 2021. Para isso, partirão da narrativa de que as eleições foram roubadas.
O sistema de contagem de votos nos Estados Unidos sempre foi complexo e demorado, se comparado com as eleições brasileiras, por exemplo. Mas isso não significa que seja moldado para favorecer os democratas, como Trump alega.
Mas muitos americanos, que já têm uma tendência histórica de desconfiar do governo, acreditam com facilidade nas acusações infundadas e nas teorias conspiratórias de Trump.
Nesta eleição, o bilionário excêntrico, dono de cassinos e resorts e ex-apresentador de reality shows plantou a semente de uma suspeita que vai brotar que nem praga nos próximos anos: a suspeita de que há um grande complô dos poderosos para solapar a vontade do "povo" americano.
Essa semente encontra terreno fértil: segundo pesquisa Gallup divulgada em setembro deste ano, 40% dos americanos consideram Trump "honesto e confiável". Essa percepção cresce entre os cidadãos sem formação superior (47%), entre aqueles que têm 35 anos ou mais (44%) e entre os entrevistados brancos (51%).
Trata-se de um poderoso capital político, que os políticos trumpistas saberão explorar.
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