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Diogo Schelp

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Em comitê anticovid com Bolsonaro, prevenção fica em segundo plano

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, após reunião do comitê de coordenação do enfrentamento da covid-19  - Marcos Brandão/Senado Federal
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, após reunião do comitê de coordenação do enfrentamento da covid-19 Imagem: Marcos Brandão/Senado Federal

Colunista do UOL

14/04/2021 12h20

Após a reunião do comitê anticovid no Palácio do Planalto, nesta quarta-feira (14), assim como ocorreu no encontro anterior, o presidente Jair Bolsonaro foi para um lado e os demais participantes, para o outro.

Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, Marcelo Queiroga, ministro da Saúde, e o deputado federal Luiz Antonio Teixeira (PP/RJ), que representou a Câmara dos Deputados, apresentaram juntos à imprensa os principais pontos da conversa. Muito se falou sobre questões importantes relacionadas à falta de vacinas e aos gargalos de infraestrutura hospitalar e de fornecimento de insumos que transformaram a atenção médica aos pacientes graves de covid-19 no Brasil em um verdadeiro pesadelo.

Mas pouco se falou em medidas preventivas, com o intuito de conter a disseminação do vírus enquanto não for possível cumprir as metas de vacinação definidas pelo governo federal. O motivo é evidente: quem coordena o comitê, Bolsonaro, se opõe radicalmente às medidas de isolamento social.

Bolsonaro não participou do pronunciamento dos outros participantes do comitê. Mas, na manhã do mesmo dia, ao deixar o Palácio da Alvorada, disse esperar uma "sinalização" do povo para tomar providências contras as medidas de isolamento social.

Em seu resumo dos temas tratados na reunião com Bolsonaro, o senador Rodrigo Pacheco elencou pelo menos quinze pontos que mereceram a atenção do comitê ou que já estão se convertendo em medidas concretas de combate à pandemia. Apenas dois desses pontos dizem respeito a medidas preventivas de implantação imediata, à parte a vacinação em massa, que não deslancha por escassez de doses.

Os dois pontos sobre prevenção discutidos no comitê são a necessidade de se fazer uma campanha de conscientização da população (e aqui Pacheco enfatizou que isso deve incluir a defesa do isolamento social) e a proposta de o governo federal distribuir máscaras para a população mais pobre.

Os outros pontos que, segundo Pacheco, foram discutidos no comitê dizem respeito à aquisição e produção de vacinas contra a covid-19 e à agilização do cronograma de imunização, à formação de médicos intensivistas, ao aumento de oferta de leitos de UTI, a soluções para suprir a demanda por insumos e medicamentos (entre os quais o kit intubação), à melhoria na logística para distribuição de oxigênio, a medidas de mitigação do impacto econômico da crise sanitária e à necessidade de evitar a judicialização de temas relacionados à pandemia.

São em sua maioria soluções ou propostas para lidar com o colapso do sistema de saúde e com a falta de vacinas, portanto.

Medidas preventivas para conter a disseminação do novo coronavírus e, assim, evitar que muitos brasileiros precisem recorrer ao sistema de saúde foram deixadas em segundo plano.

É exatamente o que se temia que poderia ocorrer quando o governo criou o comitê anticovid.

Sem governadores e prefeitos no comitê, a pressão para que o governo federal de fato mude de postura diante da pandemia é praticamente inexistente.