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Diogo Schelp

REPORTAGEM

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Estudo vai imunizar todos os adultos de Botucatu (SP) com vacina de Oxford

A vacinação em Botucatu começou com a CoronaVac em janeiro - Divulgação/Governo de SP
A vacinação em Botucatu começou com a CoronaVac em janeiro Imagem: Divulgação/Governo de SP

Colunista do UOL

27/04/2021 22h36

A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), vinculada ao Ministério da Saúde, autorizou nesta terça-feira (27) um estudo de efetividade da vacina Covishield, desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela farmacêutica AstraZeneca, que consistirá em imunizar toda a população adulta da cidade de Botucatu, no interior de São Paulo.

Com uma população de cerca de 150.000 habitantes, o município tem 105.000 adultos, dos quais aproximadamente 80.000 ainda não foram vacinados.

"A meta é vacinar todos eles em um intervalo de apenas duas semanas", disse à coluna o infectologista e epidemiologista Carlos Magno Fortaleza, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu. Fortaleza coordenou a elaboração do projeto do estudo, que será realizado por ele em parceria com outros pesquisadores brasileiros e com representantes da Universidade de Oxford e da Fundação Bill e Melinda Gates.

A instituição criada pelo fundador da Microsoft e por sua esposa vai fornecer recursos para os testes laboratoriais a serem realizados na cidade, já que um dos objetivos é verificar a eficácia da vacina de Oxford/AstraZeneca contra as novas variantes do novo coronavírus. O imunizante é envasado no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

"Um estudo de efetividade serve para entender como a vacina funciona na vida real, e não apenas no contexto controlado dos ensaios clínicos que comprovaram sua eficácia", diz Fortaleza.

A ideia do projeto nasceu do desejo do prefeito de Botucatu, Mário Pardini (PSDB), de comprar vacinas para imunizar toda a população do município. Ele encarregou Fortaleza de pesquisar mundo afora possíveis imunizantes que fossem eficazes contra a P.1, a variante de Manaus.

Rapidamente, em pouco mais de um mês, graças aos contatos feitos por Fortaleza com a comunidade científica e por Pardini no mundo político, a ideia inicial evoluiu para o projeto de um estudo científico que levaria à vacinação em massa da cidade.

O Ministério da Saúde, por meio da Fiocruz, fornecerá todas as doses necessárias para a vacinação. A data de início ainda não foi divulgada.

O estudo de efetividade, semelhante ao que foi feito pelo Instituto Butantan com a CoronaVac em Serrana (SP), é de extrema importância para o planejamento da vacinação em âmbito nacional, pois permitirá saber como o imunizante de Oxford se comporta em uma população real.

"Será possível saber, por exemplo, em que medida a vacinação de todos os adultos protege também adolescentes e crianças que não foram imunizados", explica Fortaleza.

Vai ser possível verificar, também, o impacto da vacinação na redução de casos graves e de mortes pela doença com dados estatisticamente mais significativos do que em um ensaio clínico.

Botucatu reúne as condições ideais para a realização do estudo por três fatores. Primeiro, por ser uma cidade relativamente pequena (fazer o mesmo em uma metrópole como São Paulo seria inviável). Segundo, por ter uma estrutura de saúde de excelência, possibilitando uma vacinação rápida. Terceiro, por ter capacidade laboratorial de fazer a análise genética com todas as variantes do vírus. O município sedia a faculdade de medicina da Unesp, com um Hospital das Clínicas que é referência na região oeste do estado.

Para filtrar quem poderá participar da vacinação em massa e ter o controle de quem de fato reside na cidade, a prefeitura usará, entre outros dados, os registros de pessoas nas unidades de saúde do município.