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Felipe Moura Brasil

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Michelle tenta ajudar, mas Bolsonaro atrapalha a campanha

Colunista do UOL

30/07/2022 12h30

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Comentei na Live UOL de sexta-feira (29) o relato feito por Jair Bolsonaro (PL), em tom de piada, de que mandou a primeira-dama, Michelle, aprender libras porque ela falava alto em casa.

O comentário veio após elogios que seus seguidores fizeram à esposa do presidente, especialmente por conta do discurso dela na convenção que oficializou a candidatura de Bolsonaro à reeleição.

"Parabenizar por me aturar?", perguntou ele, provocando risos.

Bolsonaro também disse ganhar R$ 33 mil, mas não gastar quase nada, porque quem gastaria seria sua mulher. "Inclusive, todo dia quando levanto, ela me pede R$ 5 mil". Questionado sobre como Michelle gastava o dinheiro, ele disse não saber, porque nunca havia dado. (Na verdade, quem deu foi Queiroz, que, com a esposa, depositou 89 mil reais.)

Piadas de cunho machista não são novidade no repertório de Bolsonaro, o pai da "fraquejada", mas que ele não consiga ouvir elogios à primeira-dama sem tentar afetar uma autoridade superior é sintomático de sua insegurança de adulto mimado.

Com ajuda de Michelle, o presidente cresceu seis pontos percentuais entre as mulheres na pesquisa Datafolha em relação ao levantamento anterior, saindo de 21% para 27% das intenções de voto, apesar de Lula ainda liderar no segmento, com 46%.

Entre eleitores evangélicos, Bolsonaro ainda ampliou a vantagem, passando de 40% para 43%, enquanto Lula teve queda de 35% para 33%.

O discurso mais suave da primeira-dama, combinando o teor evangélico com pitadas de messianismo na descrição do marido como um "enviado de Deus", serve ao mesmo tempo como contraponto à retórica tosca e bruta de Bolsonaro e como legitimação feminina das boas intenções que a campanha dele quer transparecer.

Lula, por outro lado, avançou quatro pontos entre o eleitorado masculino, passando de 44% para 48%, enquanto o presidente caiu de 36% para 32%. O petista ainda cresceu entre eleitores de classe média, de 39% para 40% das intenções de voto entre quem ganha de 2 a 5 salários mínimos; e de 29% para 34% entre aqueles que recebem de 5 a 10 - sim: 5 pontos a mais.

O piti internacional de Bolsonaro na reunião com embaixadores, com seus ataques ao processo eleitoral, provocou reações da sociedade civil, com forte e crescente adesão à carta pela democracia, de modo que o presidente parece ter jogado no lixo, por ora, os pontos que sua esposa ajudou a obter.

Michelle tenta ajudar, mas Bolsonaro insiste em atrapalhar a campanha.

Dá para entender seu incômodo.

Na Live UOL falamos também sobre as reações de Bolsonaro à carta (sentiu...) e sobre as negociações entre a Caixa Econômica Federal e o Flamengo para a construção de um estádio para o clube, no Rio de Janeiro.

Com Madeleine Lacsko, debato os principais assuntos do país diariamente, das 17h às 18h, com transmissão ao vivo nos perfis do UOL no YouTube, no Facebook e no Twitter.