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Simone Tebet x Lula e Bolsonaro
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"Triste o Brasil que tem que escolher entre o petrolão e o orçamento secreto."
Foi o que disse Simone Tebet no primeiro debate entre candidatos à presidência na TV, após Lula e Jair Bolsonaro terem manipulado os fatos sobre cada um dos escândalos.
O petista se disse "absolvido", já que a palavra passa ao eleitorado uma impressão maior de inocência que reconhecer a história completa: a prescrição dos casos do triplex do Guarujá e do sítio de Atibaia, em razão de manobras jurídicas no STF que resultaram no término do prazo legal, ainda mais vergonhosamente curto para réus acima de 70 anos. Contribuíram para isso quatro ministros do Supremo indicados pelo próprio Lula.
No do triplex, ele havia sido condenado em duas instâncias e também no Superior Tribunal de Justiça, que fixara a pena em 8 anos, 10 meses e 20 dias de reclusão. No do sítio, ele havia sido condenado em duas instâncias, com pena de prisão elevada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) para 17 anos, 1 mês e 10 dias. Sob forma e reforma de imóveis de luxo, Lula recebeu, conforme as decisões, milhões de reais em propinas de empreiteiras beneficiadas no esquema de corrupção da Petrobras.
"O orçamento secreto, eu vetei!", disse Bolsonaro, já que a alegação descontextualizada de veto passa uma impressão maior de que o presidente nada pôde fazer diante do apetite do Congresso Nacional que reconhecer a história completa: ele próprio, temendo ser alvo de impeachment na esteira das investigações sobre sua família, enviou um projeto que resgatou o esquema obscuro após a pressão do Centrão contra o veto inicial.
Depois, Bolsonaro ainda sancionou 100% das emendas de relator em 2020, 2021 e 2022. Somando-se esses gastos com a previsão de R$ 19 bilhões para 2023, tampouco vetada pelo presidente, são R$ 72,9 bilhões torrados em compra de apoio parlamentar.
Ao longo do debate, Simone Tebet ainda aproveitou duas oportunidades para reagir moralmente ao líder e ao vice-líder das pesquisas.
Na primeira, a tentativa de Lula de levantar a bola para a candidata atingir Bolsonaro ("Queria que a senhora dissesse: houve ou não corrupção no processo e tratamento da Covid?") acabou sendo usada contra o próprio petista ("Este governo tem esquemas de corrupção, como lamentavelmente teve o governo de Vossa Excelência").
Na segunda, a tentativa de Bolsonaro de falsificar o conteúdo e o contexto de uma explicação técnica dada por Tebet na CPI da Pandemia rendeu uma reação incisiva da senadora, turbinada ainda pela indignação com a hostilidade anterior do presidente contra a jornalista Vera Magalhães, que havia mencionado sua desinformação sobre vacinas em pergunta a Ciro Gomes.
"Vera, eu não podia esperar outra coisa de você. Eu acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido num debate como esse. Fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro. Mas tudo bem", disse inicialmente Bolsonaro, como se não tivesse associado vacinas à Aids e à transformação do vacinado em jacaré.
"Não pedi tua opinião", cortou o presidente duas vezes, quando ouviu a jornalista, ao fundo, pedir respeito às mulheres. "Já tá apelando. Já tá apelando", repetiu ele também.
Então se virou para Tebet e acusou:
"A senhora falou uma frase lá na CPI, o seguinte, frase tua: 'Não é porque houve malversação do dinheiro público que devemos investigar.' A senhora foi conivente com a corrupção na CPI! Não achou nada contra mim. A senhora é uma vergonha no Senado Federal! E não tô atacando as mulheres, não! Não venha com essa historinha de atacar mulher e de se vitimizar."
Como um tiozão do zap na presidência, Bolsonaro apenas reforçou, de modo ainda mais distorcido e hostil, o ataque que sua militância virtual havia feito contra Tebet nas redes sociais em maio de 2021, após a sessão do dia 4 daquele mês.
Na ocasião, a senadora simplesmente resgatou a decisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (eleito com apoio do governo), para explicar que não é de competência dos senadores investigar casos em que não há envolvimento de autoridades federais. Ela lembrou que Pacheco excluiu das funções da CPI as "matérias de competência constitucional atribuídas aos Estados, Distrito Federal e Municípios".
Eis a frase completa que ela usou na explicação em seguida:
"Não é porque o recurso é federal, foi repassado para estados e houve malversação do dinheiro público que ele pode ou deve ser investigado por esta Comissão."
As palavras "por esta Comissão" já haviam sido retiradas em postagens bolsonaristas, de modo a parecer que Tebet seria contrária a qualquer investigação deste tipo. No debate, como vimos acima, o presidente tirou essas e outras ("o recurso é federal, foi repassado para estados").
Eis a reação da senadora:
"Nós temos que dar exemplo. Exemplo que lamentavelmente o presidente não dá quando desrespeita as mulheres. Quando fala das jornalistas. Quando agride ataca e conta mentiras, como acabou de fazer. Eu quero dizer que eu não tenho medo. Eu quero dizer que fake news e robôs do seu governo não me amedrontam. Eu fiz aquele posicionamento que foi cortado e editado para virar fake news porque estava justificando a decisão do SEU presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco. Foi a decisão dele que impediu a investigação de governadores. Fui fazer uma justificativa da decisão dele. Então quero dizer para o presidente da República - nem é para o candidato - que fabrica fake news e que fala inverdades: eu não tenho medo de você e nem dos seus ministros. Recebi violência política na CPI, fui chamada de 'descontrolada', um outro de dentro me ameaçando porque queria me impedir de falar e de participar da 'CPI da Vida' e, pior que isso, um ministro SEU tentou me intimidar entrando no STF porque eu denunciei um esquema de corrupção da vacina, que Vossa Excelência não quis comprar."
Com o candidato do PT jogando na retranca, vulnerável no tema da corrupção, Tebet acabou sendo mais firme em reação ao presidente do que o petista. Ao menos por alguns momentos da noite, o que a senadora roubou foi a cena da polarização.
"O Brasil é muito maior que Lula e Bolsonaro", disse ela em suas considerações finais.
Mas o eleitorado tem gostado de apequenar o Brasil.
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