Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Mais fraco no campo de batalha, Zelensky usa discurso para buscar apoio
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A guerra da Ucrânia envolve, a partir do próprio presidente Volodymyr Zelensky, um conjunto de mensagens que está tanto naquilo que é dito como também no que dispensa o uso das palavras. Nada é à toa.
Desde o início do conflito, Zelensky optou pela intensificação de uma comunicação direta com sua própria sociedade. Afastou intermediários e mergulhou nas redes sociais. Ali passou a se dirigir também ao mundo. Adotou múltiplas línguas. Entendeu que, por meio desse tipo de estratégia, poderia criar afinidades, buscar empatia, sensibilizar multidões e elevar pressões que fossem favoráveis aos seus interesses no contexto da guerra.
Além de um sem-número de entrevistas coletivas oferecidas à imprensa tradicional, Zelensky passou a comunicar-se, por videoconferência, com as lideranças das potências de quem espera receber ajuda. Em todos os casos, preocupou-se em adequar o discurso às audiências locais.
- Quando falou aos britânicos, evocou Churchill e citou Shakespeare.
- Na quarta-feira (16), aos norte-americanos, ele falou sobre o 11 de setembro e os ataques a Pearl Harbor.
- Na quinta (17), para os alemães, recorreu ao holocausto e ao muro de Berlim.
Zelensky abandonou os protocolos e a formalidade. Optou por aparecer quase sempre de camiseta e com a barba por fazer. Também chama a atenção o tipo de vestimenta utilizada por representantes ucranianos e russos durante as rodadas de negociação —respectivamente: de um lado, moletom e boné; de outro, gravatas e abotoaduras.
Nada disso é por acaso. Trata-se de um exercício para induzir alteridade, de uma forma de contrastar a ideia de "opressores" e "oprimidos", de demarcar a vulnerabilidade da Ucrânia. Do ponto de vista da semiótica, é uma estratégia para retratar os ucranianos como "homens comuns" que resistem a agressores frios e austeros.
No campo de batalha tradicional, talvez Zelensky não tenha chances. Apesar disso, no contexto da guerra de narrativas, os ucranianos dominam todas as dimensões do conflito.
No conteúdo e na forma, na estética e na linguagem. Ao demonstrarem habilidade na construção de significados, vendem ao mundo a sua interpretação dos fatos, geram identificação e têm êxito em construir "o outro" a partir de seu próprio ponto de vista.
Temos dito, insistentemente, que, no mundo globalizado, a guerra ocorre, mais do que nunca, em múltiplas dimensões. Não se trata apenas de supremacia militar ou da capacidade que um Estado possui de impor constrangimentos econômicos a outros.
Nos tempos de interdependência, apoteose tecnológica e comunicação descentralizada, a componente moral/reputacional é mais importante do que nunca. Ela determina não apenas como a história é e será contada, mas também quais pressões e cobranças surgem a partir dos lugares que os personagens ocupam em um dado enredo.
A guerra é, portanto, sobre controlar narrativas. É sobre a capacidade dos atores de impor uma agenda e tornar as pessoas sensíveis a discursos intencionais e politicamente interessados.
Todos sabemos que a Ucrânia é mais fraca do que a Rússia nas esferas tradicionais de poder, tanto em termos militares quanto em termos econômicos. Apesar disso, suas lideranças demonstram, diante do conflito, grande competência para capturar a atenção do mundo e definir opiniões que se tornaram dominantes a respeito de seu adversário.
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