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Fernanda Magnotta

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Liz Truss subestimou a crise ou a usou como desculpa para renunciar

Colunista do UOL

20/10/2022 12h17

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A queda da primeira-ministra no Reino Unido, Liz Truss, aprofunda um conjunto de crises simultâneas que temos acompanhado de perto na Europa.

O curioso, no entanto, é como, diante de seus fracassos políticos, os líderes têm dificuldade de assumir responsabilidade pelas próprias escolhas.

Truss deixa o poder por não ter sido capaz de apresentar um plano consistente, detalhado e estável para a economia. Prometeu realizar cortes significativos de impostos para estimular o crescimento e realizar gastos bilionários com subsídios para energia, mas criou enormes ruídos por jamais ter esclarecido como se daria o financiamento disso tudo. Como consequência, alimentou o alarde nos mercados e gerou enorme crise de confiança.

Ao renunciar, Truss afirmou que não poderia seguir com as promessas dos tempos da eleição e atribuiu as dificuldades encontradas à "instabilidade economia e internacional". Tentou colocar, portanto, na conta da pandemia e de Putin sua incapacidade de governar.

É claro que tanto os efeitos da covid-19 quanto da Guerra da Ucrânia são reais e que impactam o ambiente político e de negócios no mundo todo. Afetam a oferta de insumos, as cadeias produtivas e geram pressão inflacionária. Isso é um fato.

No entanto, o cenário de 45 dias atrás, quando da eleição e da divulgação dos planos de Truss, não era substancialmente diferente. Isso significa que, de duas, uma: ou seu governo subestimou o tamanho das crises exógenas, o que seria um erro primário de cálculo, ou simplesmente encontrou nelas uma narrativa honrosa para justificar seu conjunto de decisões malfadadas.

Em poucas semanas no cargo, houve trocas sucessivas de ministros, discursos desencontrados e uma série de medidas atabalhoadas e polêmicas que derrubaram o preço da moeda e elevaram o custo da dívida pública e os juros no país.

Truss, seguindo a cartilha dos políticos profissionais desde sempre, vai se agarrar à ideia de que recebeu uma "herança maldita" de Boris Johnson; de que viveu, no cargo, um período de atípica sensibilização social, com a morte da Rainha Elizabeth; e que, para completar o combo de desgraças, ainda havia no horizonte o conflito de Putin e as ameaças geopolíticas que vêm do leste.

A explicação para o seu fracasso, no entanto, é bem mais simples: faltou articulação política e gestão básica. Desde o Brexit, a economia britânica é um navio sem direção vagando por mares que apenas se tornaram mais turbulentos. Chamar para si a responsabilidade pelas glórias obtidas, mas atribuir culpa à arena internacional pelas mazelas enfrentadas: até quando?