De olho na China, Estados Unidos lançam novo projeto para as Américas
Na última semana, o Presidente Joe Biden sediou, nos Estados Unidos, a cúpula de líderes da "Parceria das Américas para a Prosperidade Econômica" (Americas Partnership for Economic Prosperity - APEP, em inglês), um projeto do governo norte-americano que pretende estabelecer um fórum para fortalecer a competitividade regional e mobilizar investimentos em nossa região.
Biden e os líderes de outros onze países - Barbados, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, Equador, México, Panamá, Peru e Uruguai - anunciaram planos para impulsionar o crescimento e fortalecer cadeias de suprimentos críticas, com foco inicial em energia limpa, semicondutores e suprimentos médicos.
A "Parceria das Américas" prevê consultas com uma ampla gama de partes interessadas, definindo reuniões ministeriais anuais e encontros bienais de líderes para atualizar prioridades coletivas.
Os Estados Unidos, em colaboração com parceiros como o DFC, o BID Invest, a USAID e outros países como Canadá, Coreia do Sul e Espanha, dizem que desejam liderar uma série de iniciativas para promover o desenvolvimento e a sustentabilidade na região. Isso inclui o lançamento de uma nova plataforma de investimento para canalizar financiamento para infraestrutura sustentável, visando construir portos modernos, redes de energia limpa e infraestrutura digital. Na prática, o que sabemos é que será implementado um programa acelerador para apoiar empreendedores em ascensão, com um investimento inicial de apenas US$ 5 milhões da USAID.
Ademais, os compromissos conjuntos também se estendem para expandir infraestrutura e serviços sociais para migrantes e suas comunidades anfitriãs, além de desenvolver uma força de trabalho regional no setor de tecnologia digital, com enfoque em semicondutores, cibersegurança, 5G e inteligência artificial.
Por fim, há planos para criar um fundo destinado a impulsionar investimentos em soluções climáticas inovadoras, como "títulos azuis/verdes" e trocas de "dívida por natureza", com o objetivo de preservar a biodiversidade e reduzir as emissões de carbono.
Aos otimistas de plantão, são promessas de um futuro bom. Ao mais céticos, apenas gestos sem muita substância. Aliás, a literatura especializada vem descrevendo as relações Estados-América Latina no mundo pós-Guerra Fria como marcadas por reatividade, desinteresse e assimetria, independente da liderança à frente do governo.
O consenso é de que há uma tendência dos norte-americanos de deixar de lado, ou simplesmente rejeitar, os problemas da região, desde que não constituam fonte potencial de ameaça à estratégia de segurança ou econômica dos Estados Unidos. O fato é que inúmeras iniciativas análogas foram sugeridas no passado, mas nunca foram realmente levadas a sério ou tratadas como prioritárias.
Como consequência, testemunhamos, nas últimas décadas, o vácuo norte-americano sendo ocupado pelos chineses, sobretudo na era pós-Xi Jinping, em que a China é mais ambiciosa e tem uma política externa mais agressiva, associada à transformação do seu modelo de desenvolvimento rumo à uma economia baseada na inovação, vide projetos como "Belt and Road" e "Made in China 2025", já amplamente discutidos nessa coluna anteriormente.
O governo Biden trata a "Parceria das Américas para a Prosperidade Econômica" como a retomada de um diálogo estratégico dos Estados Unidos para com a região, mas, à luz de quem acompanha isso há mais tempo, soa como um novo capítulo da série "mais fumaça do que fogo".
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