Derrite esvazia Ouvidoria das Polícias para viabilizar seu plano para 2026
A criação de uma ouvidoria setorial da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo atende a dois objetivos de Guilherme Derrite: atrapalhar o trabalho da Ouvidoria das Polícias e viabilizar seus planos para as eleições de 2026. O secretário mira uma das vagas no Senado.
É conhecido o 'apreço' de Derrite pela Ouvidoria das Polícias, órgão referência na luta pelos direitos humanos e que atua de maneira independente do governo estadual.
Durante as operações na Baixada Santista que resultaram em dezenas de mortes, o secretário foi a público menosprezar o trabalho do atual ouvidor Claudio Silva, que havia pedido o afastamento dos policiais militares envolvidos nas ações letais.
Vale lembrar que o atual secretário é um oficial reserva da Polícia Militar que já foi investigado por 16 homicídios. Enfatizo: dezesseis homicídios pelos registros oficiais.
Até seus superiores acharam por bem afastá-lo da Rota, a tropa de elite da PM paulista. "Porque eu matei muito ladrão. A real é essa, simples. Pá!", justificou em uma entrevista no YouTube.
Pois é justamente esse "matador de ladrões" que cria uma outra ouvidoria. Na prática, ele cria uma dupla estrutura para a escuta de denúncias das ações de agentes policiais em São Paulo.
A Ouvidoria das Polícias já faz isso. Com a evidente vantagem para o fato de que Claudio Silva não trabalha no gabinete de Derrite, e nem é subordinado a ele, ao contrário de quem vai ocupar os cargos da nova ouvidoria.
A nota oficial da SSP diz que uma das funções do novo setor é receber "elogios" pelos serviços prestados pelas polícias paulistas.
Derrite vive um momento delicado à frente da pasta e deve estar carente por elogios. Vejamos os serviços prestados por sua gestão nos últimos meses à população de São Paulo:
- Policiais militares mataram com um tiro à queima-roupa o estudante de Medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta. Ele tinha 22 anos;
- A criança Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, foi assassinada durante uma ação da PM, em Santos, no começo de novembro. O tiro saiu de uma arma policial;
- Assassinado na saída do aeroporto de Guarulhos, o delator Vinícius Gritzbach revelou um esquema de corrupção policial que enriqueceu agentes envolvidos com o PCC;
- O ex-chefe da segurança do governador Tarcísio de Freitas foi preso por envolvimento em um esquema de lavagem de dinheiro da facção criminosa.
Deputado federal licenciado, Derrite precisa do apoio do governador para ser um dos candidatos a senador em 2026, pelo campo da extrema direita.
Não irá conseguir se a pasta da SSP continuar sendo notícia por ações desastrosas e corrupção policial.
A nova ouvidoria serve à sua estratégia de comunicação, ao mesmo tempo que vai tentar esvaziar a Ouvidoria das Polícias, órgão criado em 1995 e regulamentado por lei dois anos depois, na gestão de Mario Covas (PSDB).
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Quero receber"É uma ouvidoria burocrática, criada por resolução interna do próprio secretário. Vai ser um órgão chapa branca para elogiar a pior gestão da Segurança Pública dos últimos 40 anos em São Paulo. Não acho que terá credibilidade junto à população", afirma o sociólogo Benedito Mariano, o primeiro ouvidor das polícias de São Paulo.
Com Derrite, a letalidade policial no estado de São Paulo subiu quase 70% neste primeiro semestre de 2024 comparado ao mesmo período do ano passado.
Derrite pavimenta com sangue sua trajetória na política. E cria agora um órgão para limpar as barras de suas calças.
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