Flávio VM Costa

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Opinião

Emboscada contra Ronnie Lessa é um dos crimes sem resposta do Caso Marielle

Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle Franco e Anderson Gomes, afirmou em depoimento prestado hoje ao STF (Supremo Tribunal Federal) ter sido vítima de uma emboscada em 27 de abril de 2018, exatos 45 dias do atentado que vitimou a vereadora e seu motorista.

Naquela ocasião, um homem armado abordou Lessa em um estacionamento de um restaurante na Barra da Tijuca, sob o pretexto de levar seu relógio. Atirou contra o ex-policial militar. O tiro acertou o pescoço de Lessa.

A investigação oficial afirma que foi uma tentativa de latrocínio (roubo seguido de tentativa de homicídio). Lessa tem opinião diferente: "Eu entreguei meu relógio e ele ia atirar na minha boca. Por instinto eu fiz assim [virei o rosto]. Fui baleado sem a mínima necessidade", afirmou.

O leitor do UOL já sabe de que Lessa foi vítima de uma emboscada desde dezembro de 2019, quando publiquei a reportagem "Assalto a Lessa: as lacunas de uma possível tentativa de queima de arquivo". No texto, revelei todas as falhas gritantes da investigação da Polícia Civil do Rio referendada pelo Ministério Público. Este é um dos vários crimes sem real solução que compõem o Caso Marielle.

Veja por que considero que a solução apresentada pela Polícia Civil não corresponde à verdade dos fatos:

  • O "assalto" aconteceu em um lugar em que Lessa costumava almoçar com amigos todas sextas-feiras. Quem conhecesse sua rotina, saberia que seria fácil encontrá-lo no restaurante Varanda, na Barra da Tijuca, na data do crime;
  • Condenado pelo crime a 13 anos e 4 meses, o "assaltante" Alessandro Carvalho Neves era um paulista que nunca tinha sido pego cometendo crimes no Rio de Janeiro. Toda sua ficha criminal é de delitos cometidos em seu estado natal. E então de repente, não mais que de repente, ele resolveu "assaltar", justamente, um dos maiores matadores do Rio de Janeiro;
  • Alessandro atirou em Lessa e no bombeiro Maxwell Correia, o Suel, comparsa de Lessa e também envolvido no planejamento do atentado contra Marielle. Se tivesse tido êxito, ele teria matado dois dos prinicipais envolvidos na trama dos assassinatos de Marielle e Anderson;
  • Alessandro sempre se manteve calado todas vezes que foi indagado sobre o crime;
  • A cena do crime não foi periciada. Não se sabe onde estão o revólver e a moto que Alessandro usou no assalto;
  • O MP-RJ e a defesa do réu pediram perícia no único projétil encontrado no local, mas o material nunca chegou ao Instituto de Criminalística Carlos Éboli, como atestam emails enviados por peritos que constam no processo.

De acordo com sua delação, Lessa foi contratado para matar Marielle pelo ex-sargento da PM, Edmilson Oliveira da Silva, o Macalé. Ele foi morto a tiros em Bangu, zona oeste do Rio, em novembro de 2021. Essa queima de arquivo deu certo.

Macalé teria sido o intermediário entre Lessa e os mandantes do crime, o conselheiro do Tribunas de Contas do Rio Domingos Brazão e seu irmão, Chiquinho Brazão. Os irmãos negam.

Quando os questionei sobre os buracos da investigação sobre a "tentativa de latrocínio" que Lessa sofreu, a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio prefeririam calar. Talvez agora, com o depoimento de Lessa, a Polícia Federal resolva descobrir quem gostaria de calar o matador de Marielle e Anderson com um tiro na boca.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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