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Jamil Chade

Taxa de desemprego no Brasil irá se manter em patamares elevados, prevê OIT

17.set.2019 - José Augusto de Lima, 70. Fila de trabalhadores na 4 edição do Multirão do Emprego ofereceu 5.700 vagas - Danilo Verpa/Folhapress
17.set.2019 - José Augusto de Lima, 70. Fila de trabalhadores na 4 edição do Multirão do Emprego ofereceu 5.700 vagas Imagem: Danilo Verpa/Folhapress

Colunista do UOL

20/01/2020 17h00

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O Brasil irá manter uma taxa elevada de desemprego nos próximos anos, mesmo que uma certa redução seja registrada. Os dados fazem parte de um levantamento realizado pela Organização Internacional do Trabalho que, ao apresentar nesta segunda-feira seus números sobre o desemprego no mundo, indicou que não prevê uma melhoria acelerada para a situação brasileira.

De acordo com os dados da entidade, 2019 terminou com uma taxa de desemprego de 12,1% no Brasil. Para 2020, esse índice cai para 12% e, em 2021, ele será ainda de 11,8%. Em 2022, o índice permanece elevado, em 11,6%. Ainda que incertos, os anos de 2023 e 2024 são apresentados com uma taxa prevista de 11,5% de desemprego.

Se confirmada, a previsão revela que o Brasil permanecerá distante dos índices de desemprego de 6,7% registrados em 2014. Mesmo com a queda, o nível continuará sendo o mais alto nos últimos 30 anos.

Os dados do IBGE são outros. De acordo com a instituição, a taxa de desemprego no Brasil ficou em 11,2% no trimestre encerrado em novembro, com 11,9 milhões de pessoas.

Em termos absolutos, a OIT indica que 2019 terminou com 12,8 milhões de desempregados. Em 2020, o número previsto se mantém no mesmo patamar e cai para 12,7 milhões em 2021. Entre 2022 e 2024, o total permanece entre 12,5 milhões e 12,6 milhões.

"Não vemos um empurrão importante para permitir que taxa volte ao que existia em 2014", afirmou Stefan Kuhn, macroeconomista da OIT. Segundo ele, uma volta às taxas anteriores à crise pode levar anos ainda para ocorrer.

"Pode levar muito tempo", alertou. "Atualmente, não há como saber. Não há uma previsão de queda acelerada (do desemprego) no Brasil", disse.

Ele cita o que ocorreu com o desemprego na Grécia e Espanha, depois das crises de 2008 e 2009. "Ainda não vimos as taxas se reduzirem ao que existia antes", afirmou Kuhn.

Um dos problemas, segundo a OIT, é o modelo usado pelo Brasil para garantir seu crescimento, baseado em exportações e commodities. "A economia global está se deteriorando. Será cada vez mais difícil implementar o modelo liderado pelas exportações", indicou o economista da entidade.

Além da queda lenta do desemprego, os números da OIT apontam para o aumento de pessoas fora da força de trabalho. Em 2019, eram 60,8 milhões de brasileiros nesse situação. Em 2021, serão 62,7 milhões.

Na semana passada, a ONU já havia alertado que a recuperação da economia brasileira seria lenta e que ficaria abaixo da expansão do restante do mundo, pelo menos até 2021.


Turbulência social

Para a OIT, apesar da situação de pouco avanço no Brasil, não há indicação de que o país poderia viver o mesmo clima de turbulência social, registrado em outras partes do continente. Tal cenário ocorreria se o desemprego voltasse a aumentar.

No restante da América Latina, porém, os índices da OIT apontam que mais distúrbios podem de fato ocorrer.

Na avaliação da entidade, o fracasso em reduzir as desigualdades sociais e criar empregos decentes pode levar sociedades a tomar as ruas.

Na OIT, um índice de turbulência social foi criado e registrou uma alta entre 2009 e 2019. Das onze subregiões do mundo, sete tiveram um aumento de manifestações, protestos e greves. Um deles seria a América Latina.

Para Guy Ryder, diretor-geral da OIT, não existem dúvidas de que condições de trabalho estão minando a coesão social e criando desconforto.

Mundo

No restante do mundo, a situação social também é considerada como preocupante. Ainda que a taxa de desemprego esteja em apenas 5,4% - cerca de 188 milhões de pessoas - a realidade é que o número não conta a história completa.

No total, 500 milhões de pessoas estão fora do mercado de trabalho ou desempregadas. Além disso, outros 630 milhões de pessoas que trabalham não ganham o suficiente para sair da extrema pobreza. Isso representa um quinto de todos os trabalhadores, com um salário de menos de US$ 3,2 por dia.

Entre os jovens, 267 milhões de pessoas - 22% dessa categoria - não estão nem trabalhando e nem estudando.

"O que vemos é que para milhões de pessoas, é cada vez mais difícil construir vidas melhores por meio do trabalho", alertou Ryder. A camada mais pobre dos trabalhadores precisaria de onze anos de renda para conseguir o mesmo salário que os 20% mais ricos obtém em apenas um ano. "A situação é pior que pensávamos", completou o diretor-geral da OIT.