Enquanto Europa veta eventos e OMS pede cautela, Brasil endossa protestos
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Na ONU, o Conselho de Direitos Humanos foi cancelado. Nos EUA, a temporada da NBA foi suspensa. Em Genebra, o governo determinou que nenhum evento pode ter mais de cem pessoas. Na bilionária Liga dos Campeões, alguns jogos passaram a ser realizados sem público. No Vale do Silício ou na França, eventos com mais de mil pessoas estão proibidos, enquanto pelo mundo mais de 300 milhões de crianças estão fora das escolas.
Madonna cancelou dois shows em Paris, Pearl Jam adiou sua turnê pela América do Norte, o Festival de Cinema de Praga foi anulado, milhares de pessoas foram avisadas do cancelamento da Feira do Livro de Londres, assim como a Feira de Bolonha, de Paris e de tantas outras cidades.
Mas, enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro insiste em convocar seus aliados para um protesto "pró-Brasil", no dia 15 e março. Se o Palácio do Planalto afirma que não se trata de uma convocação oficial, declarações nas redes sociais e em eventos nos últimos dias contradizem a versão do governo de que não existe um apoio do Executivo ao evento.
A OMS não determina se um governo deve ou não cancelar eventos. Mas é explícita em apontar para os riscos e elaborou um documento de nove páginas com recomendações concretas caso um organizador decida ir adiante com seus planos de manter um evento ou reunião. A lista de recomendações é ampla e com exigências detalhadas para aqueles que considerem que o "show precisa continuar".
Já no início do texto, a agência de Saúde alerta: "eventos de massa são altamente visíveis com o potencial de graves consequências para a saúde pública, se não forem planejados e geridos com cuidado".
"Existem amplas evidências de que as reuniões de massa podem amplificar a propagação de doenças infecciosas. A transmissão de infecções respiratórias, incluindo a gripe, tem sido frequentemente associada a reuniões de massa", explica a OMS.
"Tais infecções podem ser transmitidas durante uma reunião de massa, durante o trânsito de e para o evento, e nas comunidades de origem dos participantes no seu regresso", alerta.
Num outro trecho, o documento técnico da OMS destaca: "a organização de reuniões de massa durante uma emergência de saúde global é incomum, mas pode ser feita dependendo da avaliação de risco".
Medidas
Para a OMS, os organizadores de qualquer evento precisam avaliar diversas medidas, entre elas um planejamento que garanta "a existência de sistemas e processos robustos para gerir as questões de saúde pública durante as reuniões de massa".
"A decisão de proceder a uma reunião de massa ou de restringir, modificar, adiar ou cancelar o evento deve ser baseada em uma avaliação completa dos riscos. Os organizadores do evento devem realizar essa avaliação em parceria com as autoridades locais e nacionais de saúde pública", sugere a OMS, que pede que as características específicas da doença COVID-19 sejam consideradas.
Também se pede para que as características específicas do evento planejado examinem a "densidade da multidão", "a natureza do contacto entre os participantes (por exemplo, um concerto ou evento religioso, dentro ou fora, a disposição do local do evento)" e se o evento contará com a presença de participantes inscritos e não inscritos.
Mitigar
A OMS ainda recomenda que devam ser desenvolvidos planos de ação para "mitigar todos os riscos identificados na avaliação".
Os planos de ação devem incluir a capacidade de rastrear para sintomas de COVID-19, vigilância e detecção da doença e prever como e onde os participantes doentes serão isolados e tratados.
A comunicação também é algo a ser avaliada. "Os organizadores do evento devem acordar com a autoridade de saúde pública como os participantes e a população local serão mantidos informados sobre a situação de saúde, os principais desenvolvimentos e quaisquer conselhos e ações recomendadas relevantes", sugeriu.
Os participantes ainda devem ter o direito de receber informação completa. "A comunicação de riscos é parte integrante das reuniões de massa", diz a OMS, que sugere mensagens "coordenadas e consistentes".
"As mensagens devem incluir: avaliação global do risco local, conselhos sobre medidas preventivas, especialmente etiqueta respiratória e higiene das mãos; conselhos sobre auto-isolamento e não comparecer ao evento se os sintomas se desenvolverem", explica.
A OMS ainda insiste sobre a necessidade de que mecanismos de vigilância sejam estabelecidos.
"Os organizadores terão de trabalhar com as autoridades locais de saúde pública para garantir a existência de sistemas para identificar indicadores de doença que surjam na população local ou nos participantes do evento, tais como o aumento do número de pessoas com sintomas ou o aumento do uso de medicamentos patenteados", recomenda. "Os sistemas de vigilância precisarão operar em tempo real ou quase real para apoiar ações de resposta rápida", pedem.
O isolamento também deve ser previsto "para os participantes que desenvolvem sintomas e precisam esperar por uma avaliação de saúde". Nada disso é simples. "A preparação para uma instalação de isolamento inclui o treinamento de profissionais de saúde, a implementação de medidas de controle e prevenção de infecções em qualquer ambiente de saúde e a preparação de equipamento de proteção pessoal para ser usado pelo pessoal", destaca.
As pessoas ainda devem ser aconselhadas a se manterem afastadas do evento se se sentirem doentes.
Ministros baixam o tom
Nesta manhã, diante da progressão da epidemia no mundo e no Brasil, ministros de Bolsonaro passaram a pedir cuidado.
"Se estiver gripado, não vá", disse Luiz Henrique Mandetta, titular da saúde.
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