"Chocados" com Bolsonaro, Médicos Sem Fronteiras apontam colapso amazonense
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A portuguesa Ana de Lemos tem uma ampla experiência em situações de crise e de emergência sanitária. Passou pela Libéria, Iraque, Palestina, Sudão e tantos outros países. Mas, hoje, como diretora-executiva da entidade Médicos Sem Fronteiras no Brasil, ela admite: a resposta das autoridades diante da pandemia gera indignação.
Foi com essas palavras que a representante de uma das organizações mais reconhecidas no mundo descreveu o que vê em termos de resposta diante da pandemia.
"Estamos chocados", afirmou. "Chocados pela inconsistência da mensagem dos diferentes níveis de governo para a população", disse. "E, sem isso, não há como ter um engajamento da população, que é central no caso de uma emergência sanitária", explicou a representante da entidade que, em 1999, recebeu o Prêmio Nobel da Paz.
Para ela, a forma pela qual o governo tem tratado as vítimas e seus familiares causa "indignação". "Mortes poderiam ter sido evitadas", afirmou. Até segunda-feira pela noite, o Brasil somava 11,5 mil mortes.
Sua avaliação é de que, sem uma mensagem coerente do governo, o cenário hoje é de uma desconfiança social, o que não ajuda a lidar com a crise.
A entidade Médicos Sem Fronteiras ainda alerta para o fato de que os serviços de saúde no interior do Amazonas e em outros estados da Amazônia estão incapacitados de dar uma resposta diante da pandemia, com números cada vez maiores e sem um sinal de contenção da proliferação.
O alerta foi lançado nesta terça-feira, numa coletiva de imprensa em Genebra. "Temos recebido informações de Tabatinga, São Gabriel da Cachoeira e outras cidades. E as informações apontam que os sistemas estão totalmente sobrecarregados, sem capacidade de atender", alertou Ana de Lemos.
O último informe da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM) aponta para 12.919 casos confirmados da doença. Desses, 7.264 estão de Manaus. Mas cidades como Santo Antônio do Iça, Manacapuru, Rio Preto da Eva e Tabatinga estão entre as mais atingidas.
Outra constatação da entidade é a subnotificação no número de casos registrados entre indígenas. Segundo Ana de Lemos, os sistemas de monitoramento conduzidos pela sociedade civil tem evidenciado um número superior aos dados oficiais.
Oficialmente, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) fala em 16 mortes entre indígenas, além de 214 infectados.
A situação dos indígenas na Amazônia se transformou em uma preocupação internacional. Nas últimas semanas, artistas e ativistas, além de dezenas de grupos indígenas, tem alertado sobre os riscos que correm tribos e comunidades tradicionais da região.
Deputados europeus ainda querem que a Comissão Europeia tome medidas contra o governo de Jair Bolsonaro diante de seu comportamento diante dos povos indígenas e o risco da pandemia do coronavírus.
Numa carta enviada por alguns dos deputados liderados por grupos de esquerda e ecologistas ao chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, Bolsonaro é acusado de traçar uma estratégia perigosa para a sobrevivência de tribos em diferentes partes do país.
Nas últimas semanas, a resposta à pandemia no Brasil colocou o país sob forte pressão no exterior, com ex-ministros alertando para a situação de pária do governo. Denúncias em tribunais e à OMS foram apresentadas contra o presidente Bolsonaro. Alguns dos maiores artistas e intelectuais apresentaram uma petição liderada por Sebastião Salgado para que a situação dos indígenas fosse avaliada, enquanto algumas das maiores entidades do país ligadas ao povos tradicionais apelaram para a ajuda internacional
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