Novo epicentro da pandemia, Brasil caminha para ser epicentro do desemprego
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O desemprego vai se aprofundar no Brasil, como consequência da incapacidade do governo em dar uma resposta à pandemia do coronavírus e da falta de testes. Dados divulgados nesta quarta-feira pela OIT revelam que, como resultado da crise, um a cada seis jovens parou de trabalhar no mundo. Aqueles que continuam viram suas horas de trabalho reduzidas em 23%.
Mas uma preocupação especial se refere ao Brasil. Guy Ryder, diretor-geral da OIT, declarou na manhã desta quarta-feira em Genebra que teme os níveis de infecção no país. "Parece, de forma trágica, um dos países mais afetados no mundo", afirmou.
"Há um bom motivo para estar preocupado com tanto a trajetória da pandemia como com a capacidade de implementar medidas para reagir a isso", alertou.
Segundo a OIT, a incapacidade em lidar com o vírus vai se transformar em desemprego. Em suas primeiras avaliações, a entidade estimava que a região sul-americana sofreria uma perda de 10,3% de horas trabalhadas, em comparação aos níveis pré-pandemia. Agora, esse número já foi revisto para 11,8%.
Mas a organização confirma que, se continuar a pandemia, essa situação deve piorar.
A entidade não descarta eventuais eclosões de protestos sociais, diante de um salto no desemprego no Brasil e outros países da América Latina.
A OIT estima que o declínio do horário de trabalho no primeiro e segundo trimestres de 2020 foi de 4,8%. Isso representa o equivalente a aproximadamente 135 milhões de empregos em tempo integral, o que significa um aumento de 7 milhões em comparação à avaliação inicial da OIT. O número estimado de postos de trabalho perdidos no segundo trimestre, porém, será de 305 milhões.
De uma perspectiva regional, as Américas (13,1%), e Europa e Ásia Central (12,9%) apresentam as maiores perdas em horas trabalhadas no segundo trimestre. No caso da América do Sul, as estimativas apontam para 3 milhões de postos perdidos no primeiro trimestre e outros 18 milhões de horas trabalhadas no segundo trimestre, uma alta de 11,8%.
Segundo a OIT, porém, a região sul-americana é a das que sofreu a maior revisão, em comparação à avaliação original realizada pela entidade, em março.
O salto foi de mais de um ponto percentual e, de acordo com a entidade, há uma "deterioração da situação na América do Sul".
De acordo com Guy Ryder, a constatação sobre as Américas não ocorre por acaso. "Isso coincide com o fato de que a região é hoje o epicentro da pandemia", declarou. Nos EUA, a taxa de desemprego é de 14%, a mais alta desde a Grande Depressão.
"No começo da pandemia, o continente das Américas era o menos afetado em termos de emprego", disse. "Hoje, o continente saltou para ser o mais afetado. Não há mistério. A OMS nos diz que a região se tornou o epicentro da pandemia. Essa relação está clara", afirmou.
"Existem preocupações de como a pandemia está afetando de forma mais dura os países em desenvolvimento diante da capacidade desses países em implementar as medidas corretas para conter o vírus, mas também para ter respostas no mundo do trabalho. E, claramente, o continente americano, onde informalidade é enorme, onde francamente diálogo social em muitos países não estão sendo efetiva, tem desafios", completou.
Somadas as economias dos Brics, a perda de horas de trabalho chega a 105 milhões no primeiro trimestre e 140 - 10,8%
Sem testes, fortes prejuízos
De acordo com a OIT, países que realizam amplos testes com sua população tem conseguido proteger um maior número de empregos. Segundo a entidade, existe uma relação entre testes e a crise do desemprego.
A perda de horas trabalhadas em países que conseguiram implementar tal estratégia é de cerca de 7%, contra mais de 14% em países que não conduzem amplos testes.
Segundo Ryder, ao ampliar testes, governos geram a confiança no atores econômicos. O Brasil, porém, é um dos países que menos testou. Os dados do Ministério da Saúde apontam para o fato de que apenas 1 milhão de testes foram realizados no país, menos de 1% da população.
Geração Lockdown
O levantamento revela que a pandemia está tendo um "impacto devastador" entre os jovens e que já há, desde fevereiro, um aumento "substancial" do desemprego entre essa camada.
"A pandemia está infligindo um choque triplo aos jovens", diz a OIT. "Não só está destruindo seu emprego, como também está atrapalhando a educação e a formação e colocando grandes obstáculos no caminho daqueles que buscam entrar no mercado de trabalho ou se movimentar entre empregos", afirma.
Com 13,6%, a taxa de desemprego dos jovens em 2019 já era mais alta do que a de qualquer outro grupo. Havia cerca de 267 milhões de jovens sem emprego, educação ou formação em todo o mundo.
"A crise econômica da covid-19 está atingindo os jovens - especialmente as mulheres - com mais força e rapidez do que qualquer outro grupo. Se não tomarmos medidas significativas e imediatas para melhorar sua situação, o legado do vírus poderá estar conosco por décadas", alertou Guy Ryder, diretor-geral da OIT.
"Se o talento e a energia deles for prejudicado pela falta de oportunidades ou habilidades, prejudicará todo o nosso futuro e dificultará muito mais a reconstrução de uma economia melhor, pós-COVID", disse.
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