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Jamil Chade

Pior momento da pandemia ainda não foi atingido no Brasil, alerta OMS

Cemitério da Vila Formosa, em São Paulo-SP, abre dezenas de covas para receber vítimas de covid-19 - Suamy Beydoun/AGIF
Cemitério da Vila Formosa, em São Paulo-SP, abre dezenas de covas para receber vítimas de covid-19 Imagem: Suamy Beydoun/AGIF

Colunista do UOL

01/06/2020 13h20

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Resumo da notícia

  • OMS pede que mundo ajude região, assim como fez com outros continentes
  • Agência diz que América Latina é hoje a principal "zona de intensa transmissão" no mundo
  • OMS diz que não tem sequer como prever quando pico da transmissão será atingido no Brasil

Michael Ryan, chefe de operações de emergências da OMS, alertou que não há ainda como prever quando a América do Sul atingirá o pico de transmissão do coronavírus. Em resposta a uma pergunta feita pela coluna, a agência deixou claro que o mundo precisa mostrar solidariedade à região e confirmou os dados revelados mais cedo pelo UOL em que coloca o Brasil como maior número de casos no mundo, nas últimas 24 horas.

"É difícil prever", disse o diretor, sobre quando poderia ser um pico dos casos na região. Mas, segundo ele, dos dez locais com maior transmissão no mundo, cinco estão nas Américas. O Brasil está liderando. "Os maiores aumentos vemos no Brasil, Colômbia, Chile, Peru, México, Haiti, Argentina e Bolívia", disse.

Segundo ele, nas últimas 24 horas, os maiores números vêm do Brasil, EUA, Peru, Chile e México. "Não acho que chegamos no pico dessa transmissão e não posso dizer quando isso será", admitiu.

Ele, porém, afirma que a região "se transformou na zona de intensa transmissão do vírus neste momento". "Países estão tendo de trabalhar muito para entender a escala da transmissão", afirmou.

De acordo com Ryan, há um aumento progressivo ainda na região, o que tem "sobrecarregado os serviços de saúde". "Sistemas estão sob pressão", afirmou. "Precisamos estar ao lado deles, mostrando solidariedade, insistiu, apontando para a complexidade da urbanização na região sendo um fator que pode estar ajudando na transmissão.

Sem citar os nomes de países ou governos, Ryan alertou que alguns têm atuado de forma correta. Mas apontou para falhas em outros.
"Tivemos respostas diferentes. Vemos bons exemplos de governos que adotaram uma estratégia ampla, dirigidos pela ciência. Em outras situações, vemos a ausência e fraqueza nisso", disse.

Instantes depois, ao responder a outra pergunta, ele indicou que governos que se saíram bem foram aqueles que conseguiram traduzir a ciência em programas e que "assumiram politicamente" a questão.

"Precisamos focar nosso trabalho em apoiar a América Central e Sul. Ninguém estará seguro até que todos estejam seguros", afirmou.

"Há poucas semanas, o mundo estava preocupado com a Ásia e África. De uma certa forma, a situação é difícil. Mas nas Américas estamos longe da estabilidade", insistiu. Para ele, o mundo preciso hoje ajudar a região.

Números

No início do dia, o UOL revelou que o Brasil registrou o maior número de novos casos da covid-19 e de mortes no mundo nos últimos sete dias. Dados da Organização Mundial da Saúde indicaram que o Brasil somou 6821 mortes na última semana, contra 6777 nos EUA.
Em termos de novos casos, o Brasil também liderou. Foram 151 mil casos no período avaliado, contra 141,4 mil nos EUA.

Os americanos continuam liderando em números absolutos desde o começo da crise, com 1,7 milhão de casos. No Brasil, os dados oficiais da OMS registram ainda 498,4 mil. No domingo pela noite, o Ministério da Saúde atualizou os números sobre o país, apontando para 514.849 diagnósticos.

Por ter de compilar os registros de todos os 193 países, a OMS publica os dados defasados. Ainda assim, trata-se do único registro oficial de todos os casos do mundo, submetidos pelos próprios governos.

Em termos diários, o Brasil também é o líder. No dia 31 de maio, todos os países da UE somaram, juntos, 20 mil novos casos da covid-19. No Brasil, foram 33 mil. No mundo, foram 119 mil.

Protestos

A OMS ainda alertou sobre a possibilidade de "super transmissão" em eventos de massa e protestos. Uma vez mais, a entidade insistiu em não citar nomes de países. Mas quando foi questionada sobre os protestos nos EUA e o risco de uma maior proliferação, a agência deixou claro sua preocupação.

Maria van Kerkhove, chefe técnica da OMS, apontou que, em locais onde não há ainda um controle do vírus, tais eventos "podem representar um risco". "(A pandemia) não acabou ainda e o distanciamento continua sendo extremamente importante", afirmou.

Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, também fez um alerta contra eventos de massa e apontou que tais aglomerações podem gerar uma "super transmissão". Para ele, guias sobre como organizar tais eventos foram realizados.

Ruptura com EUA

Tedros ainda foi diplomático em relação ao anúncio do governo de Donald Trump de promover uma ruptura com a agência de saúde. O anúncio foi feito na sexta-feira, com o americano indicando a decisão por conta da incapacidade de a OMS em fazer uma reforma e diante da influência chinesa na entidade.

Para o seu diretor-geral, porém, o governo americano não o procurou ainda para explicar o anúncio e nem oficializar a ruptura. De acordo com ele, o mundo foi "amplamente beneficiado" pelos recursos dos EUA por décadas. "Esse dinheiro fez muita diferença para o mundo", afirmou. "O desejo da OMS é de que continuem", disse.

A OMS ainda apontou que, depois de suspender os testes com hidroxicloroquina na semana passada, uma decisão pode ser tomada nas próximas 24 horas. A questão central é a segurança dos pacientes, depois que um estudo publicado pela revista científica The Lancet, revelou impactos colaterais do remédio.