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Jamil Chade

Mundo precisa de R$ 170 bi para frear vírus; confinamento é insustentável

18.mai.2020 - Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante coletiva virtual - China News Service via Getty Images
18.mai.2020 - Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante coletiva virtual Imagem: China News Service via Getty Images

Colunista do UOL

26/06/2020 09h40

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Uma aliança global liderada pela OMS estima que precisará de um volume inédito de US$ 31,3 bilhões nos próximos doze meses para lidar com a pandemia do coronavírus. O grupo admite que o confinamento indefinido de populações como instrumento para lutar contra o vírus não é sustentável, ainda que tenha sido fundamental.

Hoje, o projeto conta com apenas 10% do valor. O projeto planeja distribuir 500 milhões de testes até meados de 2021 aos países em desenvolvimento e 2 bilhões de doses de vacina, além de 245 milhões de tratamentos. Para o grupo, a aliança precisará imediatamente de US$ 13,7 bilhões.

Ainda que significativo, o volume é apenas uma fração do que tem sido o impacto da pandemia, estimado em US$ 337 bilhões por mês à economia global. Além disso, 100 milhões de pessoas podem ser jogadas a uma situação de pobreza.

A percepção é de que não há como manter as populações confinadas de forma indefinidas e instrumentos de testes serão necessários como resposta. Uma solução definitiva, porém, só viria com a vacina.

Na próxima semana, o mundo atingirá 10 milhões de casos da doença. Mas o que assusta a OMS é de que, por enquanto, a pandemia continua a se acelerar. Por dia, são mais de 130 mil casos em média na última semana.

Sem a capacidade de vacinar a todos imediatamente, a meta será a de atingir 20% da população mundial. Isso inclui:

- Trabalhadores do sistema de saúde (1% da população mundial)
- Adultos com mais de 65 anos (8% da população mundial)
- Outros adultos de alto risco com condições subjacentes tais como hipertensão, diabetes, etc. (15%)

Brasil pode ser prioridade; Itamaraty agora quer fazer parte

De acordo com a OMS, países com maior índice de transmissão serão alvos de uma operação emergencial. Mas critérios ainda serão estabelecidos. Nesse cenário, o Brasil poderia estar entre os locais considerados como prioritários.

Após meses se recusando a participar de forma ativa das iniciativas da OMS e tecendo críticas à organização e sua direção, o governo brasileiro agora escreve para as principais entidades internacionais na esperança de fazer parte dessa aliança que está sendo construída para acelerar o desenvolvimento de vacinas e tratamentos.

Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, afirmou nesta sexta-feira que o Itamaraty solicitou seu ingresso no projeto. "Damos as boas vindas", disse o executivo, sem dar detalhes.

Mas, para que faça parte, europeus e outros parceiros já avisaram: o Brasil terá de contribuir financeiramente.

Em maio, quando o projeto foi lançado, o Itamaraty sequer foi convidado para a cúpula. O evento arrecadou US$ 8 bilhões, na esperança de acelerar a pesquisa e desenvolvimento de produtos contra a covid-19. Naquele momento, o Ministério da Saúde informou à coluna que tinha "outros projetos" de aliança.

A postura mudou e, entre os dias 8 e 9 de junho, o governo brasileiro enviou cartas aos principais atores envolvidos no projeto indicando a vontade de participação. Além da OMS e da UE, a iniciativa conta com entidades como a Unitaid e Gavi, líderes na distribuição internacional de tratamentos e vacinas.

Na carta brasileira, porém, não há uma indicação de como o Brasil poderia ajudar financeiramente.

"O acesso a produtos de saúde acessíveis, seguros, de qualidade e eficazes é uma prioridade máxima permanente para o Brasil, tanto em fóruns internos como internacionais", escreveu a embaixadora do Brasil na OMS, Maria Nazareth Farani Azevedo.. "Isto só foi reforçado no caso da Covid-19", disse. "Como foi dito pelo Brazil e muitos outros, somente o acesso universal e rápido a uma solução econômica, segura, rápida e eficaz nos tornará igualmente seguros e capazes de superar a pandemia", escreveu.

Para se credenciar para a aliança, o Itamaraty indicou que "no nível doméstico, o Brasil empreendeu uma série de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação envolvendo os setores público e privado, academia e start-ups em um esforço considerável para combater a Covid-19 através de novos testes, vacinas, respiradores, aplicativos para smartphones e outras tecnologias".

"Em conjunção com nosso compromisso político e nossa agenda diplomática no acesso a medicamentos, o Brasil tem uma reconhecida comunidade científica e capacidade reconhecida para fabricar produtos de saúde, incluindo vacinas, e empresas farmacêuticas nacionais de primeira classe e institutos públicos", escreveu a diplomata.

Na visão da embaixadora, tais condições "credencial" o Brasil par ser um "parceiro chave" para alcançar as metas estabelecidas pela aliança.

A coluna apurou, porém, que os demais parceiros querem saber do Brasil quanto é que o governo vai enviar em recursos para o projeto, algo que a carta do Itamaraty não esclarece. Todos os participantes, inclusive os africanos, anunciaram ainda em abril o envio de dinheiro para um fundo comum.

Pelo projeto, a vacina que for produzida será de acesso universal e patentes não serão obstáculos para garantir que populações tenham acesso ao produto. "Queremos que haja um entendimento claro de que a vacina será um bem público mundial", disse nesta semana o ministro da Saúde da França, .

Por enquanto, porém, não está definido de que maneira a participação brasileira ocorreria. Mas esperança é de que haverá um espécie de cota extra de eventuais vacinas para os países mais afetados.

Hoje, o Brasil é o país que registra o maior número de casos nos últimos 14 dias, período de incubação do vírus.

Enquanto o projeto começa ganhar forma, a OMS começa a desenhar nos bastidores sua estratégia de como realizar a vacinação em massa, a partir de 2021. Um esboço inicial do plano prevê a produção de 2 bilhões de doses até o final do próximo ano.

Mas, num primeiro momento, as primeiras doses serão enviadas para os profissionais de saúde. ideia é de que esse parcela da população precisa estar protegida para poder cuidar dos infectados.

Em segundo lugar, a vacinação será destinada às pessoas com mais de 65 anos, as mais afetadas e com maior taxa de mortalidade.

Não há, porém, um acordo sobre como tal produto, um vez confirmada sua eficiência, será distribuído pelo mundo.