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Covid-19: Brasil, EUA e México são "ameaças" ao mundo, diz cientista suíço

Enterro no cemitério Vila Formosa, em São Paulo - AMANDA PEROBELLI
Enterro no cemitério Vila Formosa, em São Paulo Imagem: AMANDA PEROBELLI

Colunista do UOL

03/08/2020 06h36Atualizada em 03/08/2020 09h53

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Resumo da notícia

  • Cientista escolhido para avaliar resposta da França à covid-19 analisa quadro mundial da pandemia
  • Para Pittet, países que mantêm alto número de casos e mortes representam risco a outras nações
  • Perigo seria realimentar a pandemia em locais onde o coronavírus está em situação de maior controle
  • Neste quadro, Brasil, México e Estados Unidos aparecem como lugares a se evitar, avalia Pittet

A resposta do governo brasileiro diante da pandemia deve ser alvo de um inquérito ou de uma avaliação. A declaração é do cientista suíço e colaborador da OMS (Organização Mundial da Saúde), Didier Pittet, considerado como um dos principais epidemiologistas na Europa. Nas últimas semanas, ele foi escolhido pelo presidente francês Emmanuel Macron para liderar um processo de avaliação sobre como a França reagiu à pandemia.

Suas palavras sobre a situação brasileira são especialmente duras. De acordo com ele, Brasil, Estados Unidos e México "devem ser considerados como perigos para o restante do mundo" e representam uma ameaça aos países que, hoje, conseguiram um certo controle do vírus. Procurado para comentar a avaliação do cientista, o Ministério da Saúde não respondeu. Havendo uma manifestação do governo brasileiro este texto será prontamente atualizado.

Pittet é um dos conselheiros externos da OMS e um dos principais nomes em higiene pública no mundo. Na Suíça, ele lidera os trabalhos no Hospital de Genebra e é tido como uma das personalidades que ajudou a democratizar o uso do gel para limpar as mãos nos últimos anos.

Segundo ele, a missão que ele recebeu de Macron é o de avaliar como Paris reagiu diante da crise sanitária. Mas também comparar como outros países reagiram e mesmo sobre como as recomendações da OMS foram adotadas ou não pelos diferentes governos.

Pittet lembra que, num cenário internacional, países que representam um "elo frágil" no combate da pandemia são uma ameaça e que, por isso, governos como a Suíça recomendam seus nacionais a não irem a tais locais para evitar a importação de caso. Hoje, EUA, Brasil e México contam com os maiores números de mortes no mundo.

Com 94 mil mortes, o Brasil é alvo de críticas por parte do especialista. "É claro que estamos todos decepcionados pela reação do presidente (Jair Bolsonaro)", disse o cientista nesta segunda-feira. "O que ele fez foi uma forma de negar a emergência que estava chegando", afirmou.

O epidemiologista insiste que o brasileiro "não foi o único a cometer grandes erros". "O presidente americano Donald Trump se comporta de uma maneira muito errada e o número de mortes nos EUA é extremamente elevado". disse. "Juntos, os dois presidentes seguiram a ideia de que a economia deveria ser a prioridade, e não a questão sanitária", afirmou.

Para ele, se esses países quisessem preservar vidas e a economia, o estabelecimento de um período de confinamento era fundamental. "E ele precisava ter sido implementado rapidamente", disse. "Cientistas nos EUA e no Brasil alertaram sobre o possível desastre diante da falta de confinamento", disse.

Segundo ele, no caso americano, vai levar ainda "muito tempo" para que haja uma queda real no número de casos. "Os EUA pagarão por isso", lamentou o professor. "Os cientistas americanos são excelentes e avisaram da tragédia que estava chegando. Mas o presidente optou por não ouvir", insistiu.

"Esses dois países são exemplos de casos onde a política afetou a pandemia. Lamento dizer, mas nessas situações, a política afetou negativamente a crise. E, quando a reação vem atrasada, é muito difícil recuperar. O impacto vai ser enorme", disse.

Para ele, mesmo um confinamento curto, mas eficiente, poderia ter "mudado a trajetória" da crise.

"Por esse motivo, deve haver um inquérito", defendeu. "Deve haver uma missão ou comissão ou avaliação. O sistema de saúde poderia ter tido uma melhor resposta se não fosse saturado pelo número de casos", lamentou.