ONU: morte de Aritana é trágica e vírus afeta 70 mil indígenas nas Américas
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Michelle Bachelet, Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, qualificou a morte do cacique Aritana, no Brasil, de "trágica" e alertou que a covid-19 se transformou em uma "ameaça crítica para os povos indígenas, num momento em que muitos também estão lutando contra os danos ambientais causados pela ação humana e a depredação econômica".
O cacique Aritana Yawalapiti, líder indígena do Alto Xingu, morreu na quarta-feira (5). Ele estava internado em Goiânia e sofreu complicações após ter contraído o coronavírus.
Para marcar o dia internacional dos povos indígenas - no dia 9 de agosto - a chefe de direitos humanos da ONU citou especificamente seu caso e apontou que "muitas comunidades indígenas têm um acesso profundamente inadequado a cuidados de saúde, água potável e saneamento".
"O seu modo de vida comunitário pode aumentar a probabilidade de contágio rápido, embora em todo o mundo tenhamos visto exemplos inspiradores de comunidades indígenas tomando medidas baseadas na sua forte organização interna para limitar a propagação do vírus e reduzir os seus impactos", apontou.
"Aqueles que vivem em ambientes mais urbanos sofrem com frequência com a pobreza multidimensional, danos que são agravados por uma severa discriminação - inclusive no contexto dos cuidados de saúde", disse Bachelet.
70 mil indígenas contaminados nas Américas
Segundo ela, mais de 70 mil indígenas foram infectados pela COVID-19 nas Américas. "Entre eles estão quase 23.000 integrantes de 190 povos indígenas na Bacia do Amazonas", apontou.
"Foram registradas mais de 1 mil mortes, dentre elas a de vários anciãos com profundo conhecimento de tradições ancestrais, incluindo a trágica morte no Brasil esta semana do chefe Aritana, do povo Yawalapiti", constatou.
Bachelet ainda denunciou as condições de vida desses povos. "Nesta vasta região que abrange o Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa, 420 ou mais povos indígenas vivem em terras que estão cada vez mais danificadas e poluídas pela mineração ilegal, exploração madeireira e agricultura de corte e queima", disse.
"Apesar de regulamentações restritivas, muitas destas atividades econômicas ilegais têm continuado nos últimos meses. A movimentação de missionários religiosos também expõe as comunidades a um elevado risco de infecção", criticou.
Segundo ela, os povos indígenas que vivem em isolamento voluntário das sociedades modernas - ou que se encontram nas fases iniciais de contato - podem ter uma imunidade particularmente baixa a infecções virais, criando riscos especialmente agudos.
"As comunidades e povos que foram forçados a abandonar suas terras são também muito vulneráveis, particularmente aqueles que vivem em territórios transfronteiriços", disse.
"A pandemia ressalta repetidamente a importância de assegurar que os povos indígenas possam exercer os seus direitos de autogoverno e autodeterminação. Eles devem também ser consultados e devem poder participar na formulação e implementação de políticas públicas que os afetam, através de suas entidades representativas, líderes e autoridades tradicionais", defendeu.
"Trata-se de salvar vidas e proteger uma preciosa rede de culturas, línguas e conhecimentos tradicionais que nos ligam às raízes profundas da humanidade", insistiu.
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