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OMS: crianças maiores têm mais chance de transmitir covid do que mais novas

Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Gebreyesus, em Genebra -
Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Gebreyesus, em Genebra

Colunista do UOL

27/08/2020 13h51

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Resumo da notícia

  • Segundo OMS, a partir dos 11 anos crianças têm mais predisposição a espalhar covid
  • Agência questiona volta às aulas e alerta impacto sobre comunidades como um todo
  • Covid-19 teria de atingir entre 65% e 70% da população para se considerar imunidade de rebanho
  • Estratégia é inviável e resultaria em muitos mortos, diz OMS; hoje, cerca de 10% têm anticorpos

Maria van Kehkove, diretora técnica da OMS (Organização Mundial da Saúde), afirmou nesta quinta-feira que novos estudos revelam uma diferença na transmissão da covid-19 entre as crianças. De acordo com as pesquisas, as crianças mais velhas têm maiores chances de transmitir a doença que as mais novas.

Sem citar números específicos, a OMS também indica que existem dados que apontam que são as crianças mais velhas que desenvolvem sintomas mais fortes e que seriam mais suscetíveis a serem contaminadas. "Todas as crianças podem transmitir, mas isso seria mais frequente entre as mais velhas", disse a diretora.

De acordo com fontes da OMS, a "idade de corte" seria 11 anos de idade. Por esse motivo, escolas em diferentes locais da Europa indicaram que vão existir o uso de máscaras por crianças a partir dessa idade. Mas o maior risco viria de adolescentes, com um comportamento do vírus que poderia se igualar a de um jovem adulto.

No final da semana passada, a Unicef e a OMS chegaram a um acordo para sugerir que todas as crianças a partir dos onze anos usem máscaras, da mesma forma que adultos. As entidades, porém, reconheceram que, se existe essa tendência, os dados exatos sobre o papel das crianças na cadeia de transmissão precisam passar por novos estudos.

Para crianças entre seis e onze anos, a máscara também deveria ser recomendada. Mas apenas em certas situações e na incapacidade de se manter o distanciamento social.

Apesar da recomendação do uso da máscara, Maria Van Kerkhove afirma estar "preocupada" diante do impacto no comportamento. Segundo ela, o uso da proteção não significa que as pessoas possam abandonar a ideia do distanciamento social. "Pedimos para manter a distância, mesmo com a máscara", disse.

Volta às aulas

As informações são consideradas como relevantes, num momento em que países organizam a volta às escolas. Para a OMS, a maioria dos menores tende a desenvolver apenas sintomas suave. "Mas tivemos casos de UTI e alguns morreram", alertou a diretora. "Não podemos dizer que, universalmente, é um vírus que gera uma doença leve", insistiu.

"Crianças podem ser infectadas e parece haver diferença entre idade", disse. Segundo ela, os mais jovens estariam mais protegidas. Mas deixou claro que o maior risco está nos adolescentes.

Os dados também indicariam que há mais chance de um vírus viajar de um adulto para uma criança que o contrário.

A OMS voltou a insistir que, no debate sobre a reabertura de escolas, autoridades precisam considerar que os estabelecimentos "não operam em isolamento". Ou seja, se há uma transmissão intensa na comunidade, pode haver na escola. A preocupação e as considerações, portanto, não se limitam ao impacto nas crianças, mas também nos funcionários e professores.

Para a agência, portanto, governos precisam tomar decisões localizadas sobre a reabertura de escolas. "Estamos vendo governos tomando ações focadas", disse, ao comentar a reação de autoridades. "Há uma tentativa de calibrar as medidas, enquanto permitir que as sociedades se abrem. Todos estamos tentando descobrir como manter taxa baixa de transmissão e abrir de forma segura a sociedade", afirmou.

Para a técnica da OMS, esse calibre deve ser feito "caso a caso". "Estamos num período de ajustes. Temos instrumento e governos estão usando", afirmou.

Balada e igreja podem "ampliar fogo" da pandemia, diz OMS

Na avaliação de Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, essa calibragem precisa envolver uma análise de risco em outras áreas também. Ele destaca como, ao reabrir suas sociedades, países europeus e de outros lugares do mundo estão registrando uma volta no número elevado de casos.

Para ele, portanto, discotecas, locais religiosos, aglomerações e eventos esportivos podem "ampliar" o surto e "criar um fogo ainda maior". "Comunidades precisam escolher", alertou, numa referência à medidas para suspender eventos ou criar condições para que sejam organizados de forma mais restrita.

Mas ele afirma que existem maneiras de permitir que tais manifestações ocorram, desde que sigam critérios de segurança e risco.

"Somos seres sociais. É natural e normal que queremos nos reunir", admitiu o diretor, destacando o impacto para a saúde mental que a pandemia gerou. "Estima-se que, no mundo, 1 bilhão de pessoas sofram de alguma desordem mental. A cada 40 segundos, um suicídio é registrado", lembrou.

Buscar imunidade de rebanho deixaria "muitos mortos"

A OMS voltou a alertar hoje que estratégias de criar uma imunidade de rebanho como forma de superar a pandemia do novo coronavírus é "perigosa" e deixaria "muitos mortos".

Oito meses depois da eclosão da crise, estudos revelam que, em média, 90% da população do planeta continua suscetível ao vírus. A ideia de uma imunidade de rebanho é de até que o vírus não circule mais. Tal proposta chegou a ser considerada por governos, como forma de manter as economias abertas e, ao mesmo tempo, acelerar a proteção de suas populações

"Deixar o vírus circular é muito perigoso", disse declarou Maria van Kerkhove, diretora técnica da OMS. Mais de cem estudos estudos estão sendo realizados para avaliar tal situação. Mas ela insiste que, para eventualmente atingir tal meta, "muita gente teria de ser infectada". "E isso significa que muitos precisariam ser hospitalizados e muitos vão morrer", declarou. Para ela, a vacina é "a solução".

Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMS, alerta que nunca houve uma doença infecciosa que foi inicialmente controlada por essa forma de imunidade de rebanho atingida de forma "natural". "Além disso, levaria muito tempo. Hoje, apenas 5% e 10% da população têm anticorpos, o que significa que a infecção pode continuar em ondas", disse.

Segundo ela, alguns estudos indicariam que a covid-19 teria de atingir entre 65% e 70% da população para se considerar uma imunidade de rebanho, o que seria inviável.

Na semana passada, Mike Ryan, diretor de operações da OMS, já alertou que o mundo não pode apostar numa estratégia de criar uma imunidade de rebanho como forma de barrar a proliferação da covid-19, que já atinge 23 milhões de casos.

De acordo com a agência, estudos em mais de 50 países indicaram que menos 10% da população apresenta algum tipo de evidência da presença de anticorpos e, mesmo entre os profissionais de saúde e pessoas mais exposta ao vírus, a taxa não passa de 20% ou 25%.

Testar a todos pode não ser a estratégia mais eficaz

A OMS também admite que a estratégia de testar todas as pessoas num país não seria a mais eficiente. Hoje, testes podem levar dias para ter um resultado, o que cria um obstáculo. A forma mais eficiente, portanto, seria a de testar as pessoas com sintomas e, então, rastrear todos os contatos e testar essas pessoas.

"É assim que rompemos a ideia de transmissão", disse Ryan. Bruce Aylward, diretor da aliança global de vacinas, também reforçou a mensagem. "O teste é uma foto do momento. Precisamos ser mais inteligentes que o vírus", disse.