Trump oficializa a mentira como maior ameaça à democracia
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Faltavam ainda milhões de votos para ser contabilizados. Mas, em sua primeira reação nas redes sociais e num palco ornamentado por patriotismo e demonstrações de força, Donald Trump oficializou uma velha conhecida como a maior ameaça à democracia: a mentira.
Primeiro, nas redes sociais, o presidente alertou sobre o fato de que "eles" estariam "tentando roubar" a eleição, sem sequer indicar suspeitas que sustentem a tese. Horas depois, foi na Casa Branca que ele se auto-declarou vitorioso e, mais uma vez sem provas, anunciou que uma "fraude" estava ocorrendo.
Ao mesmo tempo, uma campanha virtual ganhou força, com o hashtag #StopTheSteal (parem com o roubo) circulando nas redes sociais. Alguns dos principais aliados de Trump já tinham ampliado o argumento de uma fraude, horas antes de se saber os resultados nos estados norte-americanos. Um deles foi Jair Bolsonaro.
Não é a primeira e nem a última vez que Trump recorre à desinformação. De fato, seu governo passou a ser regado a meias-verdades e muitas mentiras, questionadas até mesmo por membros mais próximos de seu gabinete.
Em meados do ano, o banco de dados compilado pelo jornal "Washington Post" concluiu que Trump havia feito 20 mil declarações falsas ou que levavam à desinformação desde que assumiu o cargo de presidente. Apenas sobre a pandemia foram cerca de 1,2 mil, no que o jornal chamou de "tsunami de mentiras".
No fundo, o governo criou ao longo do meses narrativas mentirosas ou fantasiosas sobre a realidade com um único objetivo: se manter no poder. Mesmo quando isso tenha custado vidas.
Um novo patamar para as fake news
Durante a campanha, o mesmo "Washington Post" revelou que 10 milhões de ligações foram feitas por um sistema eletrônico, com uma mensagem para que as pessoas "fiquem em casa". A manobra passou a ser vista como uma suspeita de uma possível ação do campo Trump para impedir votos democratas.
Mas, nesta quarta-feira, ao irromper o processo mais crítico da democracia com declarações falsas, Trump inaugurou uma nova fase. Por capitais de diferentes países, líderes levaram as mãos na cabeça, preocupados com o eco e onda que tal comportamento poderia ter pelo mundo.
No Twitter, a mensagem do presidente foi alvo de restrições e recebeu um alerta sobre o fato de a informação não ser correta. A plataforma Facebook também tomou medidas, incluindo um alerta de que o vencedor da eleição não foi declarado ou sequer projetado.
Trump ainda pode vencer, inclusive de forma legítima com os milhões de votos que já obteve. Mas a realidade é que a mentira como instrumento de poder ganhou um novo capítulo.
Ficando ou não na Casa Branca, o presidente americano deixa ao mundo como herança a ressurreição do termo "fake news". O conceito havia sido abandonado por décadas, depois que seu último usuário — Adolf Hitler — fez uso dele para destruir a imprensa livre.
Mas a outra herança é menos pessimista: a constatação de que o esforço de blindar a sociedade contra a desinformação não é apenas um debate sobre tecnologia. Mas sobre educação e democracia.
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