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Itamaraty usa crise em Mianmar para promover agenda religiosa
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Com o apoio do Itamaraty, o Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou nesta sexta-feira uma resolução condenando a situação em Mianmar. Mas o documento revelou o racha na comunidade internacional, com Rússia, China, Bolívia e Venezuela se distanciando do texto.
A resolução, que havia sido liderada pela Europa, pede a liberação de Aung San Suu Kyi, vencedora do prêmio Nobel da Paz. Além disso, o documento solicita que o regime em Mianmar aceite a entrada de uma missão internacional para examinar os abusos de direitos humanos no país.
Antes da votação, a relatoria da ONU para Mianmar fez um apelo para que os militares "retornem à caserna", que o governo legítimo seja restabelecido e que sanções dirigidas contra os generais sejam estabelecidas. A resolução acabou sendo aprovada por consenso.
O governo americano, que retornou ao Conselho da ONU na condição de observador depois de três anos de ausência, defendeu a aprovação do documento. Washington, porém, não tem direito de voto no órgão de apenas 47 países.
"Os Estados Unidos condenam o golpe militar de 1 de fevereiro contra o governo democraticamente eleito de Mianmar. Estamos ao lado do povo de Mianmar no apelo para a restauração imediata das instituições democráticas do país", disse a delegação do governo de Joe Biden.
"Instamos os militares a libertarem imediatamente todos aqueles detidos injustamente, incluindo políticos, representantes da sociedade civil, jornalistas, cidadãos estrangeiros e defensores dos direitos humanos", defendeu a Casa Branca. Os americanos ainda pediram que os militares restaurem o governo democraticamente eleito.
O governo Biden também fez um apelo pelo fim das restrições ao acesso à informação, inclusive mantendo as telecomunicações e o acesso à Internet.
Foco na religião
O Brasil seguiu na mesma linha. Ao explicar seu voto, o Itamaraty deixou claro sua postura e lamentou a imposição de um estado de emergência. O governo brasileiro pediu o restabelecimento do "governo legitimo", da ordem democrática e do parlamento eleito. Mas o país evitou usar o termo "golpe de estado".
O Itamaraty ainda alerta para a suspensão de telecomunicações no país e pede o fim de obstruções ao funcionamento da Internet.
Mas o governo brasileiro também aproveitou a crise para defender sua própria agenda. No discurso, a delegação brasileira pediu uma proteção às minorias religiosas, mais especificamente a população Rohingya.
"Os eventos ocorridos desde 1 de fevereiro aumentaram preocupação do governo sobre o direito de minorias. Como membro da aliança internacional de liberdade religiosa, o Brasil pede respeito aos refugiados Rohingya", pediu o Brasil.
Nos últimos meses, o governo de Jair Bolsonaro passou a promover a questão religiosa em sua política externa, no que foi interpretada como parte de sua guinada ultraconservadora.
China e Rússia se distanciam da resolução
Mas a votação também marcou um racha entre as potências. O governo da China alertou que era contra a realização de uma reunião para tratar do assunto e se dissociou do consenso. "O que ocorreu em Mianmar é um assunto doméstico de Mianmar. Com base na soberania do país, a comunidade internacional deve apenas ajudar as partes a realizar um diálogo", defendeu Pequim.
Para a delegação chinesa, qualquer ação deveria ocorrer "apenas para estabilizar o país, e não aprofundar crise".
Quem também protestou foi a Rússia. "Esse é um assunto doméstico. Tentativas de colocar os eventos em Mianmar na agenda do Conselho não se justifica e é político", alertou. Para Moscou, o novo governo há se comprometeu em realizar eleições e o sistema legal "continua funcionando".
Governos como o da Bolívia e da Venezuela, além de Filipinas, também seguiram o mesmo caminho e se dissociaram do texto aprovado.
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