Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
Com atraso de um ano, Brasil recorre à OMS; mas não garante vacinas

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Mais de um ano depois da eclosão da pandemia e vivendo o pior momento da crise sanitária, o governo de Jair Bolsonaro finalmente se aproxima da OMS, a Organização Mundial da Saúde (OMS). Mas traz uma lista de pedidos que, por chegar de forma tardia, dificilmente conseguirão ser atendidos pela agência de Saúde, principalmente no que se refere a uma antecipação de vacinas.
Neste sábado, o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, manteve uma das primeiras reuniões entre a cúpula do governo Bolsonaro e a direção da OMS. O encontro marca uma nova postura do governo que, por meses, fez questão de lutar contra qualquer ação internacional que pudesse significar um fortalecimento da posição internacional dos organismos multilaterais.
Sob o comando de Ernesto Araújo, a ordem no Itamaraty era a de evitar qualquer iniciativa global, dentro do contexto da luta do Itamaraty contra o que a ala mais radical do bolsonarismo chamava de "globalismo".
Durante os meses da gestão de Eduardo Pazuello, no ministério da Saúde, o princípio defendido pelo Itamaraty foi seguido e o governo brasileiro se ausentou dos principais debates na OMS.
Ainda no ano passado, o governo brasileiro hesitou em fazer parte da Covax, a aliança mundial das vacinas. Depois de forte pressão, o Palácio do Planalto acabou aderindo ao projeto. Mas optou por comprar o menor número de doses possível, atendendo a apenas 10% da população brasileira.
Queiroga, agora, quer convencer a OMS a ampliar o envio de vacinas ao Brasil. Aos interlocutores na Organização Panamericana de Saúde, braço regional da OMS, o ministro indicou que poderia ampliar as compras na Covax, saltando de 10% para 20%, o que significaria um acesso a mais de 80 milhões de doses.
Neste fim de semana, o novo chefe da pasta da Saúde voltou a tratar do tema com a direção da OMS. Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da agência, já havia avisado a outros interlocutores brasileiros que não havia disponibilidade no momento e que o mecanismo criado pela entidade sofria com a falta de abastecimento.
Até maio, o Brasil deve receber 9 milhões de doses das 42 milhões que comprou do mecanismo criado pela Covax. Mas apenas recebeu por enquanto 1 milhão.
Fontes dentro da entidade apontam que se o Brasil tivesse feito um pedido maior antes, poderia estar contemplado por um volume maior de vacinas no primeiro semestre. Mas tendo feito o pedido apenas agora, elevar as doses ao Brasil e deixar outros países pobres com dificuldade de abastecimento abriria uma crise política importante na agência.
Ainda assim, dentro da OMS, a aproximação com o Brasil foi comemorada. A entidade considera que uma eventual vitória do país contra a covid-19 pode ser decisiva hoje para reduzir os números no mundo. Nos últimos dias, o Brasil representou um terço das mortes pelo vírus e passo a ser uma ameaça sanitária internacional.
Na OMS, esperança é de que haja mudança por parte do governo
Na cúpula da OMS, Jair Bolsonaro já foi chamado de "louco" por sua atitude diante da doença. Agora, a entidade tvê com certa esperança as mensagens de Queiroga, como indicações de que ele seguiria recomendações científicas e esforços para se evitar aglomerações. A ordem interna na agência é a de usar a brecha aberta por Queiroga para permitir uma aproximação maior e convencer o governo a aderir às principais recomendações dos cientistas da entidade.
Do lado da OMS, o diretor-geral da entidade, Tedros Ghebreyesus, deixou claro ontem ainda que qualquer ação precisa ser baseada na ciência. Por meses, a insistência do Brasil em não seguir recomendações de cientistas e mesmo da OMS causaram profunda frustração na entidade.
Nas redes sociais, Tedros chamou o contato com Queiroga de "uma boa ligação". "Concordamos que fortalecer medidas de saúde pública e aumentar a produção local de vacinas é chave para parar a COVID-19", escreveu. Mas não prometeu mais vacinas.
"A OMS continua a ajudar a resposta do Brasil, baseada em ciências e num sistema nacional de saúde forte", completou.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.