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Jamil Chade

REPORTAGEM

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OMS admite reavaliar distribuição de vacinas e pode beneficiar Brasil

Sede da OMS em Genebra   - A sede da Organização Mundial da Saúde em Genebra, Suíça. Crédito: Getty
Sede da OMS em Genebra Imagem: A sede da Organização Mundial da Saúde em Genebra, Suíça. Crédito: Getty

Colunista do UOL

07/06/2021 05h23

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Resumo da notícia

  • Após atender a 20% da população de cada país, OMS poderá reavaliar critérios de distribuição de doses
  • Até lá, entidade discute como doações extras de doses podem atender países mais afetados pela crise
  • Dos cinco países com maior número de mortes pela covid-19 nos últimos sete dias, quatro estão na América Latina
  • Medida pode beneficiar liberação de doses ao Brasil. Mas OMS deixa claro que o abastecimento principal virá da produção nacional do país

A OMS (Organização Mundial da Saúde) admite que poderá reavaliar os critérios de distribuição de vacinas aos países em desenvolvimento, considerando no futuro também a intensidade da pandemia da covid-19 e a vulnerabilidade dos países.

A medida, se for aplicada, poderá eventualmente beneficiar o Brasil, ainda que a agência deixe claro que grande parte do abastecimento nacional virá da própria produção local no país. O Brasil continua entre os locais com a maior transmissão do vírus no mundo e onde se soma quase 500 mil mortes. Nos últimos sete dias, o país se manteve em segundo lugar no mundo em número de novos óbitos, com 11 mil casos.

Em resposta à coluna, o representante da OMS, Bruce Aylward, confirmou que existem debates ocorrendo neste momento para avaliar de que forma a distribuição já escassa de doses poderia considerar a gravidade da pandemia em cada país.

Na OMS, o plano inicial era de que vacinas fossem distribuídas por meio da Covax Facility, um mecanismo criado para comprar doses e garantir sua entrega em países em desenvolvimento.

A estratégia é a de atingir 20% de cobertura vacinal em cada um dos países, o que significaria proteger idosos, profissionais de saúde e pessoas com doenças crônicas.

A meta, porém, de vacinar 1 bilhão de pessoas até o final do ano nas economias mais pobres está seriamente ameaçada. Por enquanto, a entidade conseguiu enviar apenas 80 milhões de doses e espera, até setembro, atingir 250 milhões de pessoas.

Nacionalismo de vacinas, produção abaixo do esperado, restrições de vendas na Índia e o acúmulo de contratos entre empresas e países ricos frustraram os planos.

Ainda assim, a OMS considera que a estratégia mais eficiente para lidar com a pandemia é a de garantir que haja um esforço para que 20% da população de cada país seja imunizada.

A entidade, porém, admite que conversas estão sendo realizadas para adaptar a distribuição, considerando a dimensão da transmissão em cada região do mundo.

O assunto também um dos focos da atenção de governos da América Latina e a revisão é também defendida pela Organização Pan-Americana de Saúde. Hoje, dos cinco países com maior número de mortes na última semana, quatro são latino-americanos: Brasil, México, Argentina e Colômbia.

Opções sobre a mesa

De acordo com Aylward, algumas estratégias estão sendo consideradas neste momento.

Uma delas seria rever os critérios de distribuição, depois que 20% da população de cada país for atendida. "Quando criamos a Covax, precisávamos estabelecer critérios sobre como as vacinas seriam alocadas", disse. "O acordo era de que os primeiros 20% da população seriam assegurados de forma conjunta para que o mundo pudesse estar o mais protegido possível da doença", explicou o representante da OMS.

"Apenas depois dos 20% é que poderíamos mudar a modalidade onde poderíamos considerar ameaçam, vulnerabilidade (de um país) e a severidade da transmissão", disse.

Segundo Aylward, duas coisas mudaram desde que o acordo foi estabelecido em 2020.

A primeira delas foi a proliferação de entendimentos assinados entre países para a doação de vacinas. Além disso, o que a OMS constatou foi uma disparidade importante na situação epidemiológica do vírus, com regiões conseguindo caminhar em direção a um controle maior da doença, enquanto outras continuam duramente afetadas.

"Estamos avaliando hoje três aspectos", revelou Aylward. "O primeiro deles é como doações e outras doses adicionais podem ajudar esses locais mais atingidos", afirmou.

Num recente anúncio por parte de Joe Biden, presidente americano, a Casa Branca já deixou claro que, além de doações para a Covax, também faria uma distribuição focada em regiões mais afetadas pela crise.

Um segundo aspecto considerado pela OMS é a criação de uma espécie de fundo especial para garantir doses de vacinas para regiões que já vivem crises humanitárias ou conflitos armados. Esse volume, porém, é considerado menor, em comparação ao total de distribuição de vacinas.

Brasil pode ser beneficiado, mas grande parte do abastecimento será nacional

Uma terceira negociação ainda ocorre dentro da Covax. De acordo com Aylward, governos que fazem parte do conselho de administração do mecanismo poderão "revisitar" os critérios para que haja uma atenção maior aos locais mais vulneráveis.

Mas o representante da OMS é explícito em alertar que isso vai ter de passar ainda por negociações. "Isso vai exigir muito debate com os países da Covax e com os países que receberão doses", disse.

No que se refere ao Brasil, Aylward não esconde que, para o futuro próximo, o principal abastecimento de vacinas no país ocorrerá a partir de sua produção doméstica, e não por meio da Covax.

Em 2020, o governo de Jair Bolsonaro optou por comprar um volume baixo de vacinas da Covax. O mecanismo permitia que um país fizesse encomendas para até 50% de sua população. Mas o Brasil optou por adquirir apenas 42 milhões de doses, o equivalente a 10% da população brasileira, considerando duas doses por pessoa.