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Jamil Chade

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

COP26 e G20 testemunharam um Brasil que perdeu seu espaço no mundo

30.out.2021 - O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (sem partido) chega para o encontro de líderes do G20, em Roma - REUTERS/Guglielmo Mangiapane
30.out.2021 - O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (sem partido) chega para o encontro de líderes do G20, em Roma Imagem: REUTERS/Guglielmo Mangiapane

Colunista do UOL

13/11/2021 16h52

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No espaço de apenas duas semanas, dois eventos serviram para mostrar quem somos hoje no mundo: um país que perdeu o protagonismo, que busca retomar alguma credibilidade e que é visto com desconfiança. Em outras palavras, um Brasil que se apequenou.

Nos últimos dias de outubro, em Roma, a cúpula do G20 escancarou um presidente isolado, tóxico e que simplesmente não tinha canais com os demais líderes internacionais. As imagens de Jair Bolsonaro sem ter com quem falar na reunião dos xerifes do mundo não eram apenas um pária, mas de um país que perdeu seu espaço.

Com um papel menor, o Brasil deixou de ser parte dos principais protagonistas também da negociação climática e, ainda que com seus diplomatas tenha influenciado o curso de alguns processos, o país foi em Glasgow apenas uma sombra do que um dia representou no cenário político mundial.

A ausência de Jair Bolsonaro na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP26) e uma operação de sedução por parte do governo que não correspondia à realidade deixaram a comunidade internacional desconfiada da narrativa do país. Diplomatas retiraram o Brasil de cena e evitaram o título de "vilão internacional". Mas não foram capazes de restabelecer a credibilidade de um governo que, até chegar em Glasgow, adotou uma postura negacionista em relação ao clima.

O país perdeu parte de seu status incontestável de interlocutor legítimo e não foi escolhido pela presidência da conferência para ter um papel oficial de mediador, uma função que o mundo pedia para ser assumida pelo Brasil no passado.

O Itamaraty, de fato, conseguiu manter os trabalhos técnicos e se mostrar profissional no processo negociador, preservando uma parcela de sua melhor tradição. Mas, entre os líderes internacionais, o tom com o Brasil era ainda o de profunda desconfiança, principalmente depois que ficou provado que o discurso de luta contra o desmatamento era desmentido oficialmente por dados de desmatamento recorde.

Entidades como o Greenpeace e outros ambientalistas consideraram que americanos e europeus exageraram no apoio que deram ao Brasil. Mas, nas reuniões fechadas e longe das declarações políticas, alguns dos principais atores internacionais admitiram que não darão um cheque em branco para o Brasil de Bolsonaro.

Tanto o G20 como a COP26 escancararam que a comunidade internacional não irá aturar o Bolsonarismo e que uma manutenção desse pacote de absurdos trará prejuízos ao país.

No G20 e na COP26, o Brasil descobriu que o mundo não é o cercadinho do Alvorada.