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Jamil Chade

REPORTAGEM

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OMS: Ômicron dispara, mas fase aguda da pandemia pode acabar em 2022

Colunista do UOL

24/01/2022 08h21

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Resumo da notícia

  • OMS apresenta aos governos plano para sair de situação de emergência global, migrando para uma fase de controle do vírus
  • Plano implica maior vacinação, medidas sociais e um pacote de US$ 26 bilhões
  • Em poucas semanas desde a descoberta da nova variante, mais pessoas já foram contaminadas que em todo o ano de 2021
  • A cada 3 segundos, 100 novos casos da ômicron estão sendo registrados


A variante ômicron contamina 100 pessoas a cada três segundos no mundo. Mas, se houver um avanço da vacinação e a distribuição de doses pelo mundo, a fase aguda pandemia da covid-19 pode acabar em 2022, com o fim da declaração de emergência sanitária global. A declaração é do diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus que, nesta segunda-feira, abriu a reunião do Conselho Executivo da entidade com um apelo para que o mundo assuma a tarefa de colocar fim à crise nos próximos doze meses.

Para ele, existem meios de chegar a uma situação mais estável. Mas é "perigoso" ainda apostar no fim da pandemia e criticou estratégias que permitam que o vírus simplesmente circule.

Nesta segunda-feira, diante de governos de todo o mundo, a cúpula da OMS apresentou um plano de saída para a pandemia. O projeto tem como meta abandonar uma resposta à fase aguda da crise para um cenário de controle sustentável do vírus.

Nesse processo, o chefe de operações da OMS, Mike Ryan, apontou que a prioridade precisa ser reduzir infecções e proteger as pessoas, além de aumentar a oferta de diagnósticos e reduzir ainda de maneira importante o número de mortes. "Podemos acabar a pandemia em 2022 e transitar para uma nova fase", insistiu.

Ryan não descarta ainda que governos tenham de usar, de forma pontual, medidas de confinamento. Para ele, ainda há um perigo real de mutação do virus. "Temos de sempre estar prontos", afirmou.

Outro foco do trabalho será o de desenvolver novas vacinas, capazes de também frear a transmissão. Segundo Kate O'Brian, diretora de vacinas da OMS, os atuais imunizantes são fundamentais para evitar doenças graves e mortes. Mas ainda não pararam as contaminações.

"Não acho que vamos ter vacinas que vão esterilizar a transmissão", admitiu a técnica da agência. "Mas podemos ter doses que possam reduzir transmissão", disse.

A OMS ainda aponta que, num plano de saída da pandemia, a operação para sair da pandemia vai exigir US$ 26 bilhões para garantir que vacinas, testes e tratamentos também cheguem aos países emergentes. "Isso é o que vai custar para sair da crise", disse Bruce Aylward, representante da OMS.

100 casos novos a cada 3 segundos

Apesar do plano, o cenário é ainda de uma transmissão intensa. "Este domingo marca dois anos desde que declarei uma emergência de saúde pública de preocupação internacional - o nível mais alto de alarme sob o direito internacional - sobre a propagação da covid-19", disse Tedros. "Na época, havia menos de 100 casos e nenhuma morte relatada fora da China. Dois anos depois, foram relatados quase 350 milhões de casos e mais de 5,5 milhões de mortes - e sabemos que estes números são subestimados", disse.

Segundo ele, na semana passada, o ritmo de contaminação bateu todos os recordes. 100 casos foram relatados a cada três segundos, e alguém perdeu a vida a cada 12 segundos.

Desde que a ômicron foi identificada pela primeira vez há apenas nove semanas, mais de 80 milhões de casos foram relatados à OMS - mais do que foram relatados em todo o ano de 2020.

Segundo Tedros, até agora, a explosão dos casos não foi acompanhada por um aumento das mortes. Mas ele alerta que mortes estejam aumentando em todas as regiões, especialmente na África, a região com menos acesso às vacinas.

Para ele, o mundo precisará aceitar que vai conviver com o vírus. "É verdade que viveremos com a covid num futuro próximo, e que precisaremos aprender a administrá-la através de uma estratégia sustentada e integrada para as doenças respiratórias agudas, o que proporcionará uma plataforma de preparação para futuras pandemias", disse.

"Reconhecemos que todos estão cansados desta pandemia. As pessoas estão cansadas de restrições a seus movimentos, viagens e outras liberdades. As economias e as empresas estão sofrendo", disse.

Mas ele alerta que aprender a conviver com a covid não significa que o mundo "dará uma carona gratuita a este vírus".

"Isso não pode significar que aceitamos quase 50 mil mortes por semana, de uma doença evitável e tratável. Não pode significar que aceitemos uma carga inaceitável em nossos sistemas de saúde, quando todos os dias, trabalhadores esgotados da saúde vão mais uma vez para a linha de frente", disse.

"Isso não pode significar que ignoremos as consequências da longa COVID, que ainda não compreendemos completamente. Não pode significar que apostamos em um vírus cuja evolução não podemos controlar, nem prever", alertou.

Fim da fase aguda da pandemia em 2022?

Tedros, pela primeira vez, assumiu que existe uma possibilidade de que o mundo atue para acabar com a fase aguda da pandemia em 2022. Mas, segundo ele, isso não envolve considerar a ômicron como a última variante e nem classificá-la como suave.

"Há diferentes cenários de como a pandemia poderia se manifestar e como a fase aguda poderia terminar. Mas é perigoso assumir que Omicron será a última variante, ou que este é o jogo final", disse.

"Pelo contrário, globalmente as condições são ideais para que mais variantes surjam. O potencial para uma variante mais transmissível, mais mortal, permanece muito real", alertou.

Em sua avaliação, para mudar o curso da pandemia, a comunidade internacional precisa mudar as condições que a estão impulsionando.

"Se os países utilizarem todas essas estratégias e ferramentas de forma abrangente, podemos encerrar a fase aguda da pandemia este ano. Podemos encerrar a COVID-19 como uma emergência de saúde global", disse.

Isso significa, segundo a OMS, atingir a meta de vacinar 70% da população de cada país, com foco nos grupos de maior risco. Isso também significa reduzir a mortalidade através de um forte gerenciamento clínico, começando com os cuidados de saúde primários, e acesso equitativo a diagnósticos, oxigênio e antivirais no ponto de atendimento.

"Significa rastrear o vírus de perto, para monitorar e avaliar o surgimento de novas variantes. Significa a capacidade de calibrar o uso de medidas sociais e de saúde pública, quando necessário", disse.

"Se os países puderem fazer tudo isso bem, podemos acabar com a covid como uma emergência de saúde global, e podemos fazê-lo este ano", insistiu Tedros.

Segundo ele, as vacinas sozinhas não irão ser suficientes para acabar com a pandemia. "Mas não há saída a menos que atinjamos nossa meta comum de vacinar 70% da população de cada país até meados deste ano", defendeu.

"Temos um longo caminho a percorrer. Na situação atual, 86 países não conseguiram atingir a meta do ano passado de vacinar 40% de sua população - e 36 estados, a maioria deles na África e na região do Mediterrâneo Oriental, não conseguiram vacinar 10% de sua população. 85% da população da África ainda não recebeu uma única dose de vacina", declarou.