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Jamil Chade

REPORTAGEM

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80% das tropas russas já estão em posição de ataque, alertam americanos

O presidente russo, Vladimir Putin, assina decreto reconhecendo duas regiões separatistas apoiadas pela Rússia no leste da Ucrânia como independentes - Reuters
O presidente russo, Vladimir Putin, assina decreto reconhecendo duas regiões separatistas apoiadas pela Rússia no leste da Ucrânia como independentes Imagem: Reuters

Colunista do UOL

23/02/2022 18h47

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80% das tropas russas na fronteira com a Ucrânia estão em posição de iniciar uma invasão em grande escala e apenas aguardam o sinal verde do presidente Vladimir Putin. O alerta foi lançado nesta quarta-feira pelo Departamento de Defesa dos EUA, enquanto a Ucrânia declara estado de emergência e o próprio governo da Rússia evacua sua embaixada em Kiev.

Durante as últimas semanas, o governo americano vem alertando sobre um ataque a qualquer momento, o que sempre foi desmentido por Moscou e até ridicularizado por autoridades no Kremlin. Nesta semana, Putin reconheceu a independência de duas regiões rebeldes na Ucrânia, levando americanos e europeus a anunciar sanções.

Mas, segundo o Pentágono, isso não interrompeu as ações russas e Putin contaria com praticamente todas as tropas que necessitaria para realizar o avanço sobre o território vizinho. "Eles avançaram sua preparação a um ponto em que estão literalmente prontos para ir agora, caso recebam ordens", disse um representante do Departamento de Defesa norte-americano.

Com mais de 150 mil homens na fronteira, os russos teriam já algumas das tropas a uma distância de apenas 5 km da Ucrânia. Os americanos não descartam sequer que grupos especiais já tenham feito incursões. São mais de 120 grupos táticos de batalhões, além de mais de 25 navios de guerra para o Mar Negro. Segundo os americanos, isso inclui barcos com fuzileiros a bordo.

Outra informação dada pelos americanos se refere às intenções dos russos de mobilizar suas forças de reserva, o que apontaria para a existência de planos de longo prazo.

As revelações fazem parte de uma ofensiva americana para dissuadir os russos, usando justamente a disseminação de inteligência militar como forma de constranger Moscou e evitar um ataque surpresa. O governo russo chegou a chamar a tática americana de "histeria". Mas, segundo fontes diplomáticas da Europa, o discurso oficial russo tem sido acompanhado por uma verdadeira ofensiva nas redes sociais, com mensagens de ódio contra o Ocidente e uma tentativa deliberada de menosprezar líderes e países europeus.

Entre os diplomatas europeus, o que existe é um "momento definidor" da ordem global. "O temor invadiu os espíritos de todos", alerta um experiente embaixador europeu. Em condição de anonimato, um dos principais negociadores do bloco revelou à coluna a existência de um sentimento real de preocupação nas capitais da UE.

"Não sabemos neste momento qual será a próxima jogada de Putin. Estamos operando em dois registros diferentes e ele, pela primeira vez, falou de forma aberta sobre como Moscou questiona a soberania e a independência de seus vizinhos", disse. "Isso é assustador e é o equivalente a rasgar a Carta das Nações Unidas", constatou.

Do lado russo, o argumento é outro. A reação de Moscou seria uma resposta a anos sendo ignorada em suas preocupações de segurança e de ameaças ao seu território. As críticas de Putin se referem ao fato de que a Otan jamais cumpriu sua palavra e continuou a se expandir ao Leste Europeu desde os anos 90.

O Kremlin continua insistindo que está pronto para negociar. Mas se recusa a abrir mão de suas demandas por segurança e diz que a proteção do país é "inegociável". Uma das opções seria a declaração da Ucrânia de que o país se comprometeria a não aderir à Otan, algo que o Ocidente por enquanto se recusa a aceitar.

Na Otan, o alerta também aponta um ataque de grande escala na região por parte dos russos. "Tudo sugere que a Rússia está planejando um ataque maciço na Ucrânia", disse o secretário-geral do órgão, Jens Stoltenberg.

Enquanto isso, nos corredores da ONU, agência humanitárias já preparam cenários de operações de resgate e de ajuda a milhões de potenciais refugiados.

Kiev deixou claro que haverá serviço militar obrigatório para todos os homens em idade de combate e recomendou os 3 milhões de ucranianos que vivem hoje na Rússia a deixar o país "imediatamente". Diante do risco de um ataque, o governo da Ucrânia alerta que poderá não ter como prestar assistência consular a essas pessoas.