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Rachado, governo Bolsonaro não condena Putin por ataques na Ucrânia
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Enquanto líderes de democracias em todo o mundo condenam a ação de presidente russo Vladimir Putin contra o território da Ucrânia, o governo brasileiro optou por não usar o mesmo termo em uma nota oficial emitida pelo Itamaraty.
Numa primeira versão do texto, não havia uma condenação dirigida contra Putin, mas apenas um alerta de que a ação poderia violar o direito internacional e tratados. Uma ala do Executivo brasileiro defendia que houvesse uma referência mais forte.
O texto final, porém, não atendeu aos grupos que queriam um posicionamento mais claro por parte do Brasil. A nota diz:
"O Governo brasileiro acompanha com grave preocupação a deflagração de operações militares pela Federação da Rússia contra alvos no território da Ucrânia.
O Brasil apela à suspensão imediata das hostilidades e ao início de negociações conducentes a uma solução diplomática para a questão, com base nos Acordos de Minsk e que leve em conta os legítimos interesses de segurança de todas as partes envolvidas e a proteção da população civil.
Como membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Brasil permanece engajado nas discussões multilaterais com vistas a uma solução pacífica, em linha com a tradição diplomática brasileira e na defesa de soluções orientadas pela Carta das Nações Unidas e pelo direito internacional, sobretudo os princípios da não intervenção, da soberania e integridade territorial dos Estados e da solução pacífica das controvérsias".
- Veja as últimas informações sobre ataque russo à Ucrânia e mais no UOL News com Fabíola Cidral:
Silêncio constrangedor
Horas depois do início dos ataques, a demora em Bolsonaro a reagir deixou embaixadores alarmados e preocupados. O silêncio no momento mais crítico da crise pode dar uma nova sinalização perturbadora para aliados no Ocidente.
A incerteza sobre como reagir ocorreu uma semana depois da visita de Bolsonaro ao Kremlin e que gerou duras críticas internacionais.
Encurralado e disposto a mostrar que seu governo não iria ceder às pressões do presidente norte-americano Joe Biden, Bolsonaro manteve a missão. Mas bastou um deslize de sua parte, anunciando "solidariedade" aos russos, para que a viagem se transformasse em uma dor de cabeça para a chancelaria.
A coluna apurou que, nos bastidores, a crise ucraniana foi mencionada apenas "marginalmente" na conversa de mais de uma hora entre Bolsonaro e Putin. Mas foi a ausência de um apelo forte do brasileiro para que o russo aderisse a um pacto de não agressão que chamou a atenção internacional.
Agora, a esperança de parte do Ocidente é de que a condenação contra Putin seja explícita por um número grande de atores internacionais, colocando pressão máxima sobre Moscou.
Mas nos altos círculos diplomáticos da Europa, o sentimento é de que Bolsonaro foi "ridicularizado", principalmente depois de usar a viagem para vender a ideia de que ele convenceu Putin a retirar tropas da região.
Para um embaixador na ONU de uma das maiores economias da UE, a viagem de Bolsonaro e seu comportamento em Moscou mostrou que o brasileiro "nutre uma simpatia maior por autocratas como Putin e Xi Jinping que por líderes europeus".
O Itamaraty nega que tenha sido leniente com Putin e insiste que tem manifestado seu apoio aos ucranianos. O chanceler Carlos França telefonou para seu homólogo ucraniano antes de embarcar para Moscou e, num gesto raro, o governo emitiu um comunicado comemorando os 30 anos das relações diplomáticas entre os dois países.
Na noite de ontem, o Itamaraty chegou a declarar na ONU que um ataque era "inaceitável". Mas, ao longo dos últimos dias, a chancelaria tem evitado usar a palavra "condenação" e muito menos citar Putin em seus discursos, apenas indicando que todos os atores precisam ter suas preocupações ouvidas.
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