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Brasil não cita Rússia e pede investigação sem "pré-julgamento" na Ucrânia
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O governo brasileiro insistiu que está preocupado com as imagens do sofrimento humano na guerra da Ucrânia e pede investigações independentes. Mas defendeu que tais processos ocorram sem um "pré-julgamento" sobre os responsáveis, destoando das acusações de americanos e europeus direcionadas contra Moscou.
A declaração foi dada durante o encontro do Conselho de Segurança da ONU, nesta terça-feira. O órgão se reúne para lidar com a crise aberta diante dos relatos de possíveis crimes de guerra cometidos por tropas russas, inclusive em locais como Bucha.
Falando por pouco mais de cinco minutos, o governo brasileiro não se referiu ao governo russo nominalmente em nenhuma parte de seu discurso.
Para o embaixador do Brasil na ONU, Ronaldo Costa Filho, tais relatos registrados nas cidades ucranianas são de fato "extremamente preocupantes". Brasília fez um apelo para que investigações independentes sejam realizadas sobre "todas as violações" e que ambos os lados cooperem com o processo.
O Itamaraty, porém, indicou que tais processos deveriam ocorrer "sem prejulgar as conclusões" e que os autores sejam responsabilizados.
A postura foi radicalmente diferente do discurso do governo americano no Conselho de Segurança. Washington deixou claro que, a partir de suas informações, o governo de Vladimir Putin cometeu "crimes de guerra". Na mesma reunião, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, chegou a comparar os russos aos terroristas do Estado Islâmico.
O governo francês também optou por culpar diretamente os russos pelos crimes, acusando Moscou de tentar negar os fatos e de criar desinformação, enquanto a Noruega insistiu que não existe espaço para a "impunidade diante de crimes de guerra" e o Reino Unido culpou diretamente o Kremlin pelas atrocidades.
Já a China adotou uma postura parecida à posição brasileira, insistindo que indícios de crimes precisam ser investigados e que apenas assim pode haver uma constatação das responsabilidades.
Durante o encontro, o governo da Rússia negou qualquer tipo de crimes e diz que não existem provas do envolvimento de Putin sobre Bucha, além de alertar para uma suposta manipulação dos fatos. De acordo com Moscou, a retirada das tropas ocorreu no dia 30 de março, como forma de mandar um "recado de boa fé" para as negociações de paz e insistiu que autoridades locais jamais fizeram referências às mortes.
Os diplomatas russos ainda questionaram os corpos encontrados na cidade e chegaram a sugerir que os ucranianos foram os responsáveis pelas mortes, "no melhor estilo de Goebbels".
"Viemos trazer a paz e cortar o tumor nazista", disse a missão russa na ONU, que voltou a denunciar a existência de movimentos extremistas na Ucrânia.
O governo russo ainda insistiu que são os ucranianos quem têm minado o esforço para o estabelecimento de corredores humanitários e apontou que conta com "milhares de vídeos" de pessoas que estariam dispostas a testemunhar a "crueldade dos ucranianos".
A postura de Moscou foi criticada por parte dos demais países europeus.
Brasil pede fortalecimento de negociação
Para o Brasil, a única forma de evitar o sofrimento humano é por meio do fortalecimento das negociações de paz, o que permitiria reduzir o sofrimento humano. "A comunidade internacional está testemunhando a destruição de cidades", disse o embaixador.
"Uma vez mais, pedimos que um cessar fogo seja estabelecido", declarou. Segundo ele, apenas depois de retirada de tropas é que o mundo poderá saber a dimensão do sofrimento humano.
Para Costa Filho, o Conselho de Segurança está "fracassando" em seu mandato e responsabilidade de permitir um diálogo que possa conduzir a um acordo de paz.
"Lamentamos que o Conselho não consiga falar com uma só voz", disse. Segundo ele, a meta deve ser a de proteger civis e o direito internacional
O governo brasileiro ainda defendeu que civis sejam autorizados a sair das zonas de combate e que as partes no conflito permitam a passagem dessas pessoas. O Itamaraty ainda fez um apelo para que "todos" respeitam o direito humanitário internacional e que a ajuda não seja politizada.
O governo brasileiro, numa alusão aos russos, indicou que qualquer que seja a causa da guerra, civis precisam continuar a ser protegidos e que objetivos geopolíticos não podem se sobrepor à vida.
O Itamaraty, porém, criticou as sanções impostas pelo ocidente contra a Rússia. Segundo o Brasil, as medidas, ao lado da guerra, estão tendo um impacto em todo o mundo, especialmente com o aumento de preços de energia e fertilizantes.
Para o embaixador brasileiro, a fome passou a ser uma ameaça e, quanto mais durar o conflito, maior será o impacto global. Para ele, a desescalada é a única forma de colocar fim à crise.
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