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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Recuperação do emprego perdeu força no Brasil em 2022, diz OIT

CLT, emprego, desemprego, carteira de trabalho - Eduardo Matysiak/Futura Press/Estadão Conteúdo
CLT, emprego, desemprego, carteira de trabalho Imagem: Eduardo Matysiak/Futura Press/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

23/05/2022 07h00

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Depois de um período de certa recuperação na segunda metade de 2021, o mercado de trabalho no mundo volta a sofrer e a crise do desemprego ganha força em 2022. No caso brasileiro, o ritmo da recuperação registrada no final de 2021 deu sinais de perdeu fôlego no início de 2022. Inflação e o abalo no mercado chinês pesaram para o setor no Brasil e no restante da América Latina.

Dados divulgados nesta segunda-feira pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) revelam que as múltiplas crises globais estão causando uma deterioração acentuada na recuperação do mercado de trabalho global, com desigualdades crescentes dentro e entre países.

Segundo a OIT, após ganhos significativos durante o último trimestre de 2021, o número de horas trabalhadas globalmente caiu no primeiro trimestre de 2022. A taxa ficou 3,8% abaixo do patamar que existia antes da pandemia. Ou seja, o quarto trimestre de 2019. Isto é equivalente a um déficit de 112 milhões de empregos em tempo integral.

"A recuperação do mercado de trabalho global entrou em um caminho inverso. Uma recuperação desigual e frágil foi tornada mais incerta por uma combinação de crises", disse o diretor-geral da OIT, Guy Ryder.

"O impacto sobre os trabalhadores e suas famílias, especialmente no mundo em desenvolvimento, será devastador e poderá se traduzir em deslocamentos sociais e políticos", afirmou.

Os números publicados nesta segunda-feira representam uma redução significativa dos números publicados pela OIT em janeiro de 2022. Naquele momento, o déficit de empregos em tempo integral era de 70 milhões. Para o segundo trimestre do ano, o déficit vai continuar a aumentar, chegando a 123 milhões de empregos.

Recuperação brasileira perde fôlego

No caso brasileiro, a OIT destaca que a tendência de criação de postos de trabalho no final de 2021 dá sinais de perder fôlego. No último trimestre de 2021, o número de horas trabalhadas no país ficou 1,7% acima do patamar que existia quando a pandemia começou, em março de 2020. O trimestre havia sido o primeiro a mostrar números positivos, o que equivaleria a 1,29 milhão de empregos.

No primeiro trimestre de 2022, o resultado continua sendo positivo. Mas o que chama a atenção é que aponta para uma reversão, ainda que marginal, da tendência. Segundo a OIT, o número de horas trabalhadas ficou 1,6% acima dos patamares pré-pandêmicos, o equivalente a 1,16 milhão de postos de trabalho, abaixo da taxa do final de 2021.

A taxa é bem melhor que os 27% de queda no segundo trimestre de 2020 e que registrava um déficit de 20 milhões de postos de trabalho. Ao longo dos meses, a situação dramática foi sendo reduzida. Mas, pela primeira vez, a tendência mudou de direção.

Para a OIT, dois elementos pesaram nos resultados do Brasil e da América Latina. Um deles foi a volta do confinamento em cidades chinesas, afetando uma vez mais o comércio e as redes de abastecimento. Um segundo impacto foi o da inflação, ameaçando a recuperação do mercado de trabalho. A entidade estima que o ano de 2022 será "difícil" para a América Latina e a recuperação dos últimos meses pode ser desfeita.

No resto do mundo, o cenário também não é positivo. "Múltiplas crises globais novas e interligadas, incluindo a inflação, turbulência financeira, dívida e ruptura da cadeia de fornecimento global - exacerbada pela guerra na Ucrânia - significam que há um risco crescente de uma maior deterioração das horas trabalhadas em 2022, bem como um impacto mais amplo nos mercados de trabalho globais nos próximos meses", alertou a OIT.

Segundo a OIT, a agressão russa contra a Ucrânia já está afetando os mercados de trabalho na Ucrânia e em outros mercados.

"Impulsionado por perturbações na produção e no comércio exacerbadas pela crise da Ucrânia, o aumento dos preços dos alimentos e das commodities está prejudicando gravemente as famílias pobres e as pequenas empresas, especialmente as da economia informal", alertou a OIT.

O relatório também constata que uma grande e crescente divergência entre economias mais ricas e mais pobres continua a caracterizar a recuperação. Enquanto os países de alta renda experimentaram uma recuperação em horas trabalhadas, as economias de baixa e média-baixa renda sofreram retrocessos no primeiro trimestre do ano com uma diferença de 3,6% e 5,7%, respectivamente, quando comparadas com o patamar pré-pandemia. "Estas tendências divergentes provavelmente se agravarão no segundo trimestre de 2022", disse.

Em alguns países em desenvolvimento, os governos estão cada vez mais limitados pela falta de espaço fiscal e pelos desafios de sustentabilidade da dívida, enquanto as empresas enfrentam incertezas econômicas e financeiras e os trabalhadores continuam a ficar sem acesso suficiente à proteção social.

Renda ainda não foi recuperada

Segundo a OIT, mais de dois anos após o início da pandemia, os trabalhadores continuam a sofrer os impactos da crise.

"A renda do trabalho ainda não se recuperou para a maioria dos trabalhadores. Em 2021, três em cada cinco trabalhadores viviam em países onde a renda do trabalho não havia retornado ao nível observado no quarto trimestre de 2019", disse a entidade.

A diferença entre homens e mulheres também se aprofundou. No primeiro trimestre de 2022, a diferença global de gênero em horas trabalhadas foi 0,7 pontos percentuais maior do que o valor de referência pré-crise, de 2019, quando já havia uma grande brecha de gênero.

"As mulheres em empregos informais foram as mais afetadas. E, em termos de grupos de renda, os países de renda baixa e média viram o maior aumento da disparidade entre os gêneros", disse.