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Cúpula das Américas: China ataca EUA e cita assassinatos na América Latina
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Resumo da notícia
- Atitude de Pequim amplia crise entre Washington e Pequim
- Declarações da China são vistas como tentativa de intervenção em evento regional
- Bolsonaro aceitou viajar até a Cúpula, depois que Biden ofereceu encontro entre os dois líderes
O governo da China rompe uma fronteira que marcou o século 20 na diplomacia internacional e, num gesto claro de que Pequim não está mais disposta a apenas assistir ao poder americano, passa a criticar o posicionamento dos EUA na América Latina e na Cúpula das Américas, que ocorre nos próximos dias em Los Angeles. Os ataques ainda coincidem com os 200 anos da Doutrina Monroe, data que será marcada em 2023.
No início de maio, o governo chinês deixou evidente que tem pretensões na região que, por anos, foi considerado como área de influência dos EUA. Num encontro com a imprensa, o porta-voz da diplomacia chinesa insistiu que a cúpula organizada por Joe Biden não pode apenas atender aos interesses norte-americanos. Duas semanas depois, em jornais controlados pelo estado chinês, reportagens foram publicadas denunciando a exploração americana contra os países da América Latina.
A cúpula ocorre em um momento difícil para Joe Biden, que ainda optou por não convidar ao evento regional países como Nicaragua, Cuba e Venezuela. O governo mexicano indicou que não iria, enquanto Jair Bolsonaro barganhou um encontro com o presidente americano para ir até Los Angeles.
Mas o desembarque da China no debate não agradou diplomatas americanos. A coluna apurou que o gesto de Pequim foi considerado como "ousado" por parte da Casa Branca e um sinal claro de que a tensão entre as duas potências em vários debates também chega à influência que ambos querem ter na América Latina.
Hoje, a China já é o segundo maior parceiro comercial da América Latina, superada apenas pelos EUA. Mas estudos apontam que, se o ritmo de comércio for mantido, Pequim irá superar os americanos antes de 2035.
Na América do Sul, a China já é o maior parceiro, inclusive do Brasil. Entre 2000 e 2020, o comércio latino-americano com o mercado chinês se multiplicou por 26, para um total de US$ 315 bilhões.
No início de maio, coube ao porta-voz da chancelaria chinesa, Zhao Lijian, dar o tom do recado que Pequim queria passar aos americanos. "A cúpula não pode aplicar somente as normas americanas ou servir ao interesse próprio dos Estados Unidos. Ela não pode ser reduzida a uma cúpula americana", disse Zhao.
A ofensiva chinesa, inclusive na América Latina, tem surpreendido ex-embaixadores americanos na região. Um deles, na condição de anonimato, afirmou que Pequim está "abrindo espaço como um trator" e deixando sua postura tradicional de moderação na diplomacia internacional.
O evento, porém, foi usado pelos chineses para citar Doutrina Monroe, prestes a completar dois séculos. "O próximo ano marcará o 200º ano desde que os Estados Unidos propuseram a Doutrina Monroe", acrescentou Zhao.
A Doutrina foi estabelecida pelo presidente americano em 1823 e tinha como objetivo blindar a região da influência das antigas potências colonizadoras da Europa. Mas, para historiadores e diplomatas, tal ato inaugurou séculos de intervenções dos EUA no continente.
Para a China, os Estados Unidos não só não beneficiaram os países latino-americanos, como também os exploraram e intervém em suas políticas domésticas, inclusive conspirando contra líderes locais.
"Os EUA têm falado nas Américas para os americanos, mas é para o povo americano apenas", disse o chinês. Segundo ele, Washington trata a região como seu quintal e "não está comprometido" com seu desenvolvimento. De acordo com Pequim, os americanos levaram para a região exploração, interferência, agressões armadas e assassinatos.
"Não há lugar para falar de Monroe na América Latina hoje e não americanos não devem copiar essa estratégia em outras partes do mundo", alertou o representante chinês.
"Esperamos que o lado americano respeite seriamente a soberania e a dignidade dos países latino-americanos, e que respeite seriamente as normas básicas que regem as relações internacionais", disse Zhao.
Duas semanas depois, no jornal controlado pelo Partido Comunista Chinês, o China Daily, um novo ataque foi feito contra Biden e suas intenções nas Américas.
Citando a agência oficial Xinhua, o jornal lembrou como, em 2013, o então Secretário de Estado John Kerry afirmou na sede da Organização dos Estados Americanos (OEA) que a Doutrina Monroe acabou.
Segundo a imprensa chinesa, isso não aconteceu. "As impressões digitais de Washington estão em todo o golpe militar de 2009 em Honduras, a expulsão do paraguaio Fernando Lugo em 2012 e da brasileira Dilma Rousseff em 2016, a demissão forçada do boliviano Evo Morales em 2019, e a crise política em curso na Venezuela", disse.
"Os quase 200 anos desde que os Estados Unidos adotaram a chamada Doutrina Monroe em 1823, as atrocidades dos EUA na América Latina ofuscaram as relações bilaterais", disse. "A história do desenvolvimento dos Estados Unidos é também uma história de resistência latino-americana marcada com sangue e lágrimas", aponta.
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