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Com equipe de Trump, governo Bolsonaro faz ofensiva antiaborto no mundo
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O governo de Jair Bolsonaro intensifica sua agenda internacional no esforço para ampliar a aliança de países que lutam contra o aborto e qualquer referência à prática no âmbito da política externa. A ofensiva está ocorrendo com a participação de representantes ultraconservadores dos EUA, inclusive que ex-assessores do próprio Donald Trump.
O movimento americano que faz parceria com o governo brasileiro comemorou a decisão da Corte Suprema dos EUA que representa uma mudança profunda na postura do país sobre o aborto. Para o grupo, tal medida que restringirá a autonomia da mulher vai fortalecer a posição de países que queiram enfrentar leis que permitem o aborto.
Para o grupo, a decisão é uma "vitória enorme" e que terá um "efeito significativo pelo mundo".
Ao lado do então presidente americano, o Brasil e outros países formaram o Consenso de Genebra, uma coalizão de cerca de 30 países para tentar promover sua agenda antiaborto. Na avaliação do bloco ultraconservador, qualquer referência à educação sexual ou direitos sexuais num texto internacional poderia ser a "porta de entrada" para que, eventualmente, o tema do aborto desembarque no cenário internacional.
Mesmo com o fim do governo Trump, o Brasil manteve a aliança ativa e assumiu um protagonismo na promoção de suas ideias.
No dia 28 de junho, por exemplo, o governo organiza o Seminário Internacional de Políticas Públicas Familiares, liderado pela secretária de Família, Angela Gandra. A esperança das autoridades é de que o evento possa contar com Katalin Novak, a presidente ultraconservadora da Hungria e que já tinha ocupado o cargo de ministra da Família no governo de extrema-direita de Viktor Orbán. Nas últimas semanas, a representante brasileira esteve inclusive na embaixada húngara em Brasília.
No dia 14 de junho, Gandra ainda manteve uma reunião com Valerie Huber, assistente de Trump para temas relacionados com a Família. Na pauta: a reunião no Brasil na próxima semana.
Huber, no último dia de governo em janeiro de 2021, escreveu um email a parceiros em todo o mundo para se despedir. Mas informando que, a partir daquele momento, a operação global do movimento ultraconservador ficaria com o Brasil.
Foram dela alguns dos comentários mais efusivos nas redes sociais de apoio à decisão da Corte Suprema dos EUA.
Nesta semana, para preparar a agenda do Brasil sobre famílias, Ângela Gandra se reuniu com membros do Itamaraty.
Outro encontro também aconteceu com a sexóloga Narine Nersisyan, que já chegou a alertar que a volta das escolas após a pandemia foi uma ocasião para divulgar notícias sobre os supostos "novos padrões gerais" de educação. Segundo ela, por conta desses novos padrões, haverá "um aumento no número de homossexuais".
Em um filme sobre a Convenção de Lanzarote, Nersisyan disse ainda que era muito cedo para ensinar crianças menores de 12 anos a se protegerem da violência sexual.
Desde o início do governo Bolsonaro, a política externa do país tem surpreendido alguns dos mais tradicionais parceiros do Brasil. Com alianças com governos ultraconservadores - cristãos e muçulmanos - as autoridades brasileiras conduziram um esforço para modificar a agenda internacional em relação aos temas de gênero, o papel da mulher, movimento LGBT+ e outros grupos.
O governo justificava que apenas estava traduzindo para a política externa uma linha de política doméstica contra o aborto. Mas para democracia europeias e de outras partes do mundo, o direito à saúde reprodutiva não conduz necessariamente os governos a serem obrigados a ceder e aceitar leis que permitiriam uma maior flexibilidade para uma política pró-aborto.
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