Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Procura-se um líder no Ocidente, urgentemente
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Liz Truss, a primeira-ministra do Reino Unido que renunciou hoje, pode ter entrar para a história como apenas uma nota de roda pé na lista das pessoas que assumiram o governo.
Mas sua queda consolida o mal-estar profundo nas democracias ocidentais: a ausência de lideranças e estadistas capazes de conduzir sociedades por uma das transições mais traumáticas em décadas.
A nova queda de um governo de uma potência nuclear sem direção desde o Brexit se soma ao caos político na Itália, à incapacidade de Olaf Scholz de se firmar na Alemanha como uma voz de autoridade na Europa, à crise doméstica que vive Emmanuel Macron na França e as ameaças de derrota dos Democratas nas eleições legislativas nos Estados Unidos.
Enfraquecido, dividido e sem um projeto claro, o Ocidente se depara com uma realidade internacional desafiadora. De um lado, as mudanças climáticas ameaçam um sistema baseado na exploração ilimitada de recursos naturais e que pautou a expansão desse bloco nos últimos séculos.
Depois de dois anos de uma pandemia que colocou até os países ricos de joelhos, após uma deterioração gradativa das democracias diante do desmonte de direitos depois da crise financeira de 2008, a atual explosão da inflação aprofunda o desmonte da ideia de estabilidade social em várias dessas democracias.
Mas os desafios também são geopolíticos. Maior parceira comercial de mais de cem países pelo mundo, a China desembarcou com a convicção de que, hoje, a comunidade internacional não tem como tomar decisões sem considerar sua posição e seus interesses.
Se há 20 anos seus embaixadores mantinham silêncio e buscavam, nos bastidores, influenciar decisões internacionais, hoje Pequim não hesita em tomar a palavra em reuniões de cúpula, fazer exigências de forma pública, acusar rivais e bloquear decisões de órgãos internacionais.
Se não bastasse, a Europa e as potências ocidentais travam uma guerra por procuração contra Moscou. O terreno é a Ucrânia. Mas o que está em jogo é a fronteira entre esses dois blocos, decisivos para a história do século 21.
Enquanto isso, partidos tradicionais continuam a lutar por seus feudos, por seus privilégios, distantes das populações e descolados dos interesses nacionais. Sequestrados por lobbies e nacionalismos, sucumbiram quando mais se necessitava de uma visão ousada e até revolucionária para reinventar o futuro.
Traíram as promessas da democracia e, em nome do poder, deixaram espaço para charlatões, populistas de extrema direita e vendedores de ilusão.
Vivendo numa encruzilhada histórica, as potências ocidentais não poderão se surpreender se, logo, um anúncio anônimo circular pelos principais jornais dessas democracias com um apelo: "Procura-se um líder, urgentemente".
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