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Golpistas na Alemanha eram simpatizantes de grupo recebido por Bolsonaro
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O governo de Jair Bolsonaro (PL) recebeu em seus gabinetes membros de um movimento que é citado, na Alemanha, como parte da investigação contra a trama que organizava um golpe de estado para derrubar o governo em Berlim.
Ontem, na maior operação da polícia alemã contra a extrema direita em anos, as autoridades de Berlim prenderam 25 pessoas. Elas são acusadas de organizar um golpe, e o foco é o grupo Reichsbürgern, que teria sido a base dos trabalhos dos suspeitos. Para os procuradores alemães, trata-se de uma suspeita de "terrorismo".
Dois alemães foram recebidos, em 2021, pela cúpula do bolsonarismo, em Brasília. Eles faziam parte do movimento Querdenken.
Mas o que esse grupo tem a ver com a tentativa de golpe na Alemanha? De acordo com fontes da polícia alemã, alguns dos detidos eram também simpatizantes do movimento Querdenken, que ganhou força na pandemia por ser contra vacinas e divulgar teorias conspiratórias. O grupo negacionista já estava na mira de inteligência alemã por ter laços com neonazistas desde 2020.
Agora, os investigadores querem saber qual o papel do Querdenken no estabelecimento dessa rede clandestina que visava atacar a democracia.
A informação do envolvimento de simpatizantes do Querdenken foi publicada pela imprensa alemã —os grupos de de mídia SWR e ARD. Jornais, como o britânico The Guardian, também citaram o envolvimento do movimento na investigação.
A então ministra Damares Alves concedeu uma longa entrevista para a alemã Vicky Richter, ligada ao Querdenken. Ela é ainda cofundadora, com Markus Haintz, do dieBasis, um partido antivacina e negacionista da pandemia que espalha pelas redes idéias conspiratórias.
Entre os dias 6 e 9 de setembro de 2021, a representante do grupo foi recebida por Damares, Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e Bia Kicis.
Na conversa, a ministra denuncia a "erotização das crianças por meio de música, da arte, do cinema, das festas populares".
Como resposta, a alemã afirmou que está "a par das elites que pagam caro para satisfazer suas fantasias" com crianças, além de "ritos de estupros" por comunidades tradicionais.
"O Brasil romantizou muito as práticas culturais. Mas quando vamos às aldeias, não tem nada disso. Tem dor e tortura", respondeu Damares.
Ela, por seu lado, insiste que não é compreendida. "A imprensa fala que eu sou louca, fanática, fascista, nazista, negacionista, maluca", disse a então ministra. "Nossa proposta mexe com muitas estruturas. É uma proposta de fortalecimento de família e proposta conservadora", explicou. "Nós nos afastamos de pautas como legalização do aborto, para proteger a mulher de verdade", insistiu. Ela também atacou o "relativismo cultural no Brasil".
"O novo assusta. Eu assusto e não sou compreendida por ter uma visão nova", argumentou a ministra. "Mas eu não sou maluca. Amo as crianças do Brasil", garantiu Damares.
"Não estamos cansados. Só Deus nos impede. Só se não for vontade de Deus que estejamos na condução do Brasil, não vamos continuar", completou.
Alguns dias depois de estar no ar, a entrevista com Damares foi retirada das redes sociais. Os autores protestaram, alegando que havia uma conspiração das grandes empresas digitais para impedir que se denunciasse casos de pedofilia.
"Como deve ser o medo das Big Tech e dos globalistas diante da verdade sobre esses crimes silenciosos?", questionou a autora da entrevista.
O motivo, porém, era outro. Os representantes da extrema-direita alemã tinham usado uma música sem a autorização dos autores, que protestaram e conseguiram derrubar o link.
O encontro ocorreu semanas depois de Bolsonaro receber uma deputada do partido de extrema direita, AFD, alvo de monitoramento por parte dos serviços de inteligência da Alemanha por suspeitas de minar a democracia.
A deputada, neta de um ministro de Adolf Hitler, também argumentou que sua viagem ao Brasil tinha ocorrido durante seu período de férias.
Entre os membros do grupo detido por organizar um golpe na Alemanha também estava um ex-membro de tal partido.
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