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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Bolsonaro tornou Brasil fator de instabilidade regional, diz equipe de Lula

14.nov.2019 - O presidente Jair Bolsonaro participa de evento (Diálogo com o Conselho Empresarial do BRICS) com os presidentes dos países do BRICS, Cyril Ramaphosa (Africa do Sul), Narendra Modi (Primeiro Ministro da Índia), Vladmir Putin (Rússia) e Xi Jinping (China) durante reunião de cúpula do grupo, no Palácio do Itamaraty. - Pedro Ladeira/Folhapress
14.nov.2019 - O presidente Jair Bolsonaro participa de evento (Diálogo com o Conselho Empresarial do BRICS) com os presidentes dos países do BRICS, Cyril Ramaphosa (Africa do Sul), Narendra Modi (Primeiro Ministro da Índia), Vladmir Putin (Rússia) e Xi Jinping (China) durante reunião de cúpula do grupo, no Palácio do Itamaraty. Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Colunista do UOL

22/12/2022 12h21Atualizada em 22/12/2022 12h54

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Ao adotar uma vertente ideológica para o debate regional e tentar isolar o governo de Nicolas Maduro, o governo de Jair Bolsonaro transformou a América do Sul em um campo de enfrentamento entre potências, cada qual buscando sua hegemonia na região.

Essa foi a conclusão da equipe de transição que ficou responsável por avaliar a política externa, fazer um mapeamento da situação no Itamaraty e propor medidas para a diplomacia nacional sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Como parte do relatório publicado nesta quinta-feira, o grupo apontou para o desgaste do país no exterior como resultado de quatro anos de política externa bolsonarista.

"Ao apostar no isolamento da Venezuela, o Brasil cometeu erro estratégico de transformar a América do Sul em palco da disputa geopolítica entre EUA, Rússia e China. De catalisador de processos de integração, o país passou a ser fator de instabilidade regional", constatou.

De uma maneira geral, o grupo indicou que a "combinação entre o desmonte de políticas públicas, em nível interno, e o predomínio de visão isolacionista do mundo, no nível externo, afetou a imagem do país e prejudicou a capacidade brasileira de influir sobre temas da agenda global".

"Ao assumir posturas negacionistas, o Brasil perdeu protagonismo em temas ambientais, desafiou esforços de combate à pandemia e promoveu visão dos direitos humanos inconsistente com sua ordem jurídica", constatou.

Mas foi o papel de instabilidade que desempenhou o governo Bolsonaro que recebeu destaque especial. "Na América Latina, (o Brasil) tornou-se fator de instabilidade", alertou.

"O estímulo a processos de integração política, comercial e de infraestrutura com os países vizinhos sempre foi uma marca da diplomacia brasileira, além de um preceito constitucional", disse o levantamento.

"No governo Bolsonaro, predominou postura diametralmente oposta, que redundou no desmonte da UNASUL, na saída da CELAC e no crescimento de forças favoráveis ao desmantelamento do MERCOSUL enquanto união aduaneira", afirmou.

No raio-x apresentado, o grupo ainda destaca como "a política africana foi abandonada e pouca atenção foi dada às comunidades brasileiras no exterior".

Também concluíram que, em quatro anos, o Brasil deixou de ser um ator relevante. "O governo Bolsonaro abandonou o protagonismo em agendas internacionais caras aos interesses de desenvolvimento nacional, como direito à saúde, direito à alimentação adequada, igualdade de gênero e racial, e enfrentamento a todas as formas de violência e de discriminação", disse.

Para a equipe de transição, houve ainda um diálogo intenso entre a estratégia externa do Brasil e o comportamento doméstico do governo na retirada de direitos.

"A mudança no discurso diplomático e a participação desastrada em alianças ultraconservadoras caminharam de mãos dadas com o desmonte de políticas públicas domésticas, em especial no que se refere a igualdade de gênero, direitos sexuais e reprodutivos e direito de minorias", apontou.

Dívidas

O informe ainda confirmou as revelações publicadas pelo UOL, no início do mês, destacando a dívida deixada por Bolsonaro com entidades como a ONU e tantas outras. "A dívida com organizações internacionais representa grave prejuízo à imagem do país e à sua capacidade de atuação e compromete severamente sua política externa", disse.

"O Brasil deve atualmente cerca de R$ 5,5 bilhões de reais. Se um valor mínimo dessa dívida não for pago ainda no atual exercício, haverá perda de voto em organizações como a ONU, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT ), entre outras", completou.